Texto Luciana Leitão | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro
Começou a pintar paisagens, usando aguarelas. Aos poucos, foi apurando a técnica e ganhando confiança para representar outras coisas, não tão facilmente perceptíveis aos olhos dos outros. Hoje em dia, o artista de Macau Choi Su Weng prefere a tinta a óleo, a intensidade das cores, a multiplicidade de texturas e a pintura abstracta, dando a quem vê as suas obras a possibilidade de interpretar o conteúdo à sua maneira.
Pintor profissional, Choi Su Weng nasceu em Macau em 1952. Foi na escola primária que tomou o primeiro contacto com as artes, ainda que não tenha conseguido prosseguir os estudos na área. “O ambiente económico de Macau não era muito bom, por isso comecei a trabalhar muito cedo, aos 13 anos. Tive diferentes tipos de empregos”, afirma. Passou por fábricas de tecelagem, foi assistente de escritório e também chegou a leccionar artes e ofícios a crianças.
A pintura só se tornou séria já ele tinha mais de 20 anos. Estava-se então nas décadas de 1970 e 1980, altura em que Macau se urbanizou rapidamente, e em que Choi Su Weng, juntamente com outros nomes como Lai Ieng, Lio Man Cheong, Pun Lon San, Io Fong, Luk Tin Chi e Sio In Leong, surgiu na cena artística da cidade. Marcava-se então o arranque de uma nova era cultural, em que se desenvolvia a técnica de aguarela pelas suas cores esbatidas.
No início da carreira, Choi Su Weng começou a pintar em casa, nos tempos livres. Depois passou a transportar a tela e as aguarelas, instalando-se junto aos principais monumentos para ganhar inspiração. “Pintava paisagens com aguarelas. Representava os monumentos, os pescadores, a Taipa, Coloane…” Era quase como se fossem fotografias, por serem tão fiéis à realidade.
Aos poucos, Choi Su Weng começou a sentir que a sua técnica não era suficiente e que precisava de dar um salto no seu estilo, mudando para algo mais parecido com o Impressionismo, movimento que surgiu na pintura francesa no século XIX, e em que se utilizavam pinceladas soltas para dar a sensação de luz e movimento. “Gostava do romantismo das pinturas impressionistas”, afirma para justificar a transformação.
Mais tarde veio a combinar o Impressionismo com a tinta-da-china. E foi apenas em 1997 que se virou para o Abstraccionismo, corrente que abraçou desde então. Apercebendo-se das limitações das aguarelas, optou pelo uso da tinta a óleo. “Com aguarelas não consegues fazer pinturas grandes, porque a textura não o permite, enquanto com o óleo usas camadas e camadas de cores e consegues fazer grandes pinturas, além de usar diferentes cores”, revela.
Porém, hoje em dia, para o artista não é importante o material ou o meio em que cria, mas o conteúdo. E esse resulta das suas interacções, experiências, vivências e sentimentos.
Uma aprendizagem a solo
Aprendeu sozinho tudo o que sabe, através da leitura de livros e de catálogos, exposições e trabalhos de outros artistas. Foi ganhando competências e agora explora “pensamentos e sensações”, procurando acrescentar algo ao invés de apenas retratar a realidade, como fazia no início. “Quero expressar sentimentos românticos, os sentimentos de que se falava na poesia chinesa das dinastias Tang e Song.” Não o faz intencionalmente, acaba por ser-lhe natural, quase instintivo. “Sinto desta maneira, porque recebi a educação chinesa, li os poemas chineses e vivi na China, a minha mente é chinesa.”
Há já quase três décadas que trabalha como artista profissional, ganhando a sua vida através dos quadros que faz, assim sustentando a mulher e os descendentes. “Ganho o suficiente, não sou rico”, assegura, acrescentando que já teve tempos melhores, especialmente na década de 1990. “Havia um grupo de portugueses coleccionadores que vinha ao meu estúdio com regularidade para comprar pinturas. Alguns compravam todos os meses.”
Depois de 1999, as vendas caíram, oscilando bastante, e foi então que resolveu ter um agente em Pequim. “Antes de 1999, era eu que vendia, não precisava de intermediários e, portanto, não tinha de pagar uma comissão”, afirma. Hoje em dia continua a vender sobretudo a chineses de Macau e do Interior da China, mas em menor quantidade. Seja como for, para quem trabalha neste ramo, Choi Su Weng acredita que a motivação não pode ser o dinheiro. “Se quiseres fazer da arte a tua vida, não penses em compensações materiais, consegues ser feliz em espírito.”
Em Setembro deste ano, o artista fez uma exposição de 16 obras de pintura abstracta a óleo sob o tema “Reflexão”. Na abertura da mostra na Fundação Rui Cunha, Rui Cunha, presidente, afirmou esperar que estas obras funcionassem como “bons pensamentos para estimular as gerações mais novas”.
Apresentando características únicas e grande expressividade, o trabalho do artista local reflecte o estado de espírito e pensamentos de Choi, que espera, através das cores, contrastes e texturas desencadear diferentes reacções e pensamentos junto de quem as vê. Choi Su Weng expõe desde 1997, ano em que participou na Feira Internacional de Arte de Cantão.
Ao longo da sua carreira, as suas obras já passaram por vários lugares do mundo. Entre as várias mostras em que participou, contam-se a Exposição Colectiva em Sexteto de Aguarelas (Canadá), a Visita a Portugal em 1999 – Exposição Colectiva em Quinteto (Comissão dos Descobrimentos de Portugal) e 2001 – Exposição Colectiva em Quinteto (Lisboa, Portugal). Em 2002, participou na Feira de Artes de Xangai. “Consciência da natureza”, a sua primeira mostra a solo, realizou-se em Macau em 2006.