PAL Asiaconsult | A crescer com Macau

O mercado de obras públicas é onde a PAL Asiaconsult se sente mais à vontade, após anos consecutivos a ganhar concursos. Especializada em consultoria de engenharia, a empresa tem um percurso de desenvolvimento paralelo ao da própria cidade

Rui Cernadas

 

Texto Nuno G. Pereira | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Com o estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau, em 1999, muitas empresas com capitais portugueses optaram por abandonar as suas operações locais, descrentes do futuro económico da Região. Um erro colossal, já que Macau viria a florescer do ponto de vista económico, com um crescimento praticamente sem paralelo no resto do globo. No entanto, houve quem fizesse uma antevisão optimista da mudança, aguentando alguns meses de incerteza, normal numa viragem administrativa profunda, para depois colher os frutos. Foi o caso da PAL Asia Consult. O presidente da empresa, Rui Cernadas, recorda esse contexto. “Foi um momento marcante em 1999, quando apostámos em Macau. Não achámos que a passagem da bandeira pudesse interferir com a nossa presença e decidimos continuar a investir cá. Acreditámos que a região ia ter grande desenvolvimento.”

A colaboração regular com a nova administração surgiu ao longo dos anos seguintes, intensificando-se gradualmente. “O Governo de Macau começou a trabalhar connosco. Teve necessidade de fazer projectos para relançar a economia – na altura ainda não havia a liberalização do jogo – impulsionando o aumento dos investimentos e dinamizando a área da construção e serviços relacionados. Conseguimos dar a resposta adequada ao que era exigido, mobilizando os nossos meios. Graças a isso, o Governo ficou consciente de que esta empresa local, que decidiu permanecer na região, tinha capacidade de resposta para fazer face às necessidades requeridas. Não foi preciso ir bater à porta de Hong Kong por Macau não ter empresas de consultoria válidas. Fomos crescendo desde aí e, em 2000, já tínhamos um número de trabalhadores locais superior ao dos nossos concorrentes.”

A PAL Asiaconsult tem actividade de consultoria de engenharia, com duas grandes áreas principais de actuação: elaboração de projectos e fiscalização de obras. A sua participação no desenvolvimento de Macau é notável, com intervenção em inúmeras obras. “Destaco empreendimentos como o Aeroporto de Macau e os edifícios adjacentes, o Terminal Marítimo do Porto Exterior, o novo Terminal Marítimo do Pak On (em construção). Tivemos também uma intervenção significativa nos pavilhões desportivos para os Jogos da Ásia, realizados em 2005, e nos projectos de habitação social. Nos clientes privados, saliento os projectos da Nam Van, com o reordenamento de toda a zona dos lagos, os edifícios do Banco Nacional Ultramarino e do World Trade Center (este já há algum tempo) e nos resorts City of Dreams e Galaxy, onde actuámos ao nível das infraestruturas envolventes e de ligação entre os prédios.”

 

Dome

 

Origem lusitana

Sendo uma companhia de Macau com matriz lusitana, a PAL Asiaconsult teve sempre uma ligação a Portugal, nomeadamente no que diz respeito aos corpos accionistas. E já com uns bons anos, pois o início de actividade remonta aos anos 70. Rui Cernadas explica como nasceu a empresa. “Começou em 1978, quando era denominada apenas Asiaconsult. Só mais tarde, no início dos anos 90, é que passou a PAL Asiaconsult. Nessa altura, havia outra empresa em Macau, a Profabril Centro de Projectos, com actividade similar. O accionista principal da Asiaconsult comprou-a e não houve necessidade de manter as duas empresas a funcionar com as estruturas que tinham. Então juntou-se a maioria das pessoas na Asiaconsult, que passou a chamar-se PAL Asiaconsult. A Profabril Centro de Projectos continua a existir em Macau, com acção mais reduzida, porque a grande concentração de trabalho ficou na PAL Asiaconsult.”

A decisão de manter a empresa em funcionamento, durante a transição administrativa, apesar de baseada no optimismo quanto ao futuro, acarretou dificuldades. “Na altura tínhamos cerca de 50 pessoas, agora temos 90. Houve anos difíceis, nomeadamente 1999 e 2000, em termos de trabalho. Era o fim de um ciclo e o início de outro, há um hiato normal. Esse foi o investimento que fizemos, ou seja, optámos por não despedir pessoas, o que foi difícil pela falta de trabalho nessa fase, mas sempre na expectativa de que o Governo, quando precisasse de contratar uma empresa de consultoria de engenharia, pudesse contar com a nossa. E foi isso que aconteceu. Graças ao trabalho que começámos a fazer com o Governo e que se manteve ao longo dos anos, implementámos uma boa imagem, que neste momento traz à PAL Asiaconsult uma sólida reputação.”

 

Aeroporto de Macau

 

Futuro assente na RAEM

A PAL Asiaconsult tem no seu historial alguns trabalhos realizados fora da RAEM, nomeadamente no Interior do País. “Soubemos aproveitar uma boa oportunidade na Expo-Xangai, o Pavilhão de Portugal, um projecto chave-na-mão que o Governo de Portugal deu à nossa empresa. Foi um desafio interessante, feito em conjunto com o arquitecto Carlos Couto. Também tivemos uma intervenção a nível de projecto de engenharia no Pavilhão de Macau, com o arquitecto Carlos Marreiros. Também já gerimos a construção de pontes.”

Contudo, este mercado não é visto por Rui Cernadas como uma prioridade. “As obras privadas nas outras regiões são muito difíceis de ganhar. Há empresas de engenharia no Interior da China com prestações de serviço bastante mais baratas do que aquilo que uma empresa de Macau gasta nos custos de elaboração de um projecto. Há muitas saídas de projectos para clientes privados aqui em Macau, que são entregues a empresas deste género. Ora isto acontece não só pelo preço mais baixo, mas também por outra razão: a exigência dos clientes privados na elaboração do projecto é muito menor. Um projecto do Governo de Macau, sempre de execução por concurso, implica uma lista com muitas especificidades, exige que o projecto seja muito mais cuidado. Um cliente privado que queira fazer uma torre de habitação, por exemplo, não precisa de um concurso público para decidir quem faz a obra.”

A estratégia da empresa está assim bem definida: continuar a investir em Macau, onde acreditam que as obras comparticipadas pelo Governo irão continuar em alta. “Estamos naturalmente atentos a oportunidades do sector privado que nos permitam marcar presença nesta parte do Sul da China, mas sem dúvida que o mercado de obras públicas de Macau é a nossa prioridade indiscutível.”

A confiança nesta opção vem de dois factos: o trabalho em curso e a reputação obtida. “Continuamos com uma participação forte nos projectos do Governo. O melhor marketing que uma empresa de engenharia pode ter é prestar serviços com qualidade. Se o Governo de Macau continua a querer trabalhar connosco é porque prestamos tais serviços. E essa continua a ser a nossa luta diária: serviços de excelência e cumprimento rigoroso de prazos.”

 

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Concorrência surpreendente

Quando instado a dizer quais as dificuldades que a PAL Asiaconsult enfrenta, Rui Cernadas hesita um pouco, com a tranquilidade de quem não encontra algo óbvio. Sem ser um aspecto dramático, afirma, a mão-de-obra é onde a empresa se depara com alguns obstáculos. “A contratação de mão de obra está permanentemente em cima da mesa, andamos sempre à procura de novos técnicos. Embora não tenhamos muita rotação. Felizmente as pessoas que têm vindo para a empresa mostram-se fiéis, estando connosco de uma forma prolongada no tempo. Gostam de cá estar, mas fazemos por isso. Praticamos salários acima da média, o que também nos facilita as contratações. Além disso, temos uma política de prémios, damos formações e, para técnicos que vêm de fora, pagamos os custos de habitação.”

Os jovens são um dos alvos preferenciais. “Temos sempre estagiários. Os de fora vêm através do programa Inov-Contacto, da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, e alguns já ficaram. Os jovens chineses locais vêm da Universidade de Macau. São recém-licenciados, precisam de ter contacto com a vida real. Por isso, uma empresa de prestação de serviços como a nossa, onde podem pôr em prática aquilo que aprenderam e aprendem coisas novas, é perfeita. A nossa perspectiva é formar estes jovens e conseguir que fiquem connosco depois dessa fase. E aí é o busílis da questão.”

Esse “busílis da questão”, ou seja, a dificuldade em manter os jovens colaboradores que a empresa forma, tem ainda um lado irónico, pois a rivalidade surge do cliente prioritário da PAL Asiaconsult. “O nosso grande concorrente (risos) é o Governo de Macau, nos seus diferentes gabinetes. O que é normal, também precisam de técnicos. Custa investir num quadro durante quatro ou cinco anos e depois vê-lo sair, mas também sabemos que isso acontece em todas as áreas profissionais.”

Com o crescimento de Macau a ser um eventual íman para atrair empresas multinacionais, nem por isso Rui Cernadas se mostra preocupado com concorrentes directos para disputar obras públicas. “Não nos assustam porque estamos muito adaptados às exigências do mercado local. E melhor qualidade do que nós na prestação de serviços também não temos visto.”

 

Pavilhão de Portugal em Xangai

 

 

Factos e números

Principal cliente: Governo da RAEM

Facturação estimada para 2014: De 50 milhões a 55 milhões de patacas

Colaboradores: 88 técnicos

Data de fundação: 1978