Texto José Sousa Dias, da agência Lusa em Cabo Verde
Qual é o “estado de saúde” do turismo em Cabo Verde?
Estamos numa fase que podemos chamar de embrionária, mas também numa fase em que já não podemos dar a volta, é irreversível, em relação à aposta no sector. Todos os governos de Cabo Verde trabalharam com este objectivo e hoje podem ver-se os resultados. O turismo participa com mais de 35 por cento do PIB nacional, é um quarto da riqueza que este país produz. É um sector sensível, que exige passos seguros, pelo que estamos a trabalhar para a questão da sustentabilidade do destino, do planeamento, da protecção ambiental, da garantia jurídica dos investimentos e dos investidores que escolhem Cabo Verde para operar, dando toda a cobertura legal e institucional. Estamos ainda a trabalhar na modernização da legislação sobre turismo, de forma a abarcarmos todas as vertentes e criar todas as condições de investimento no país.
E vai apostar-se na qualidade?
Estamos a trabalhar para termos um turismo de qualidade. Para tal, estamos a fazer vários investimentos nas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, das vias de comunicação, como estradas, e na melhoria das condições de saúde. Temos ainda uma falha que passa pela questão da água e da energia, mas estamos também a fazer investimentos para garantir esses dois bens preciosos, não em abundância mas em qualidade e que possa servir a população cabo-verdiana e os turistas. Estamos ainda a trabalhar nos planos operacionais do turismo, para organizarmos o sector, identificando os recursos turísticos que temos em cada localidade das dez ilhas do arquipélago para diversificar a nossa oferta. Queremos trabalhar a parte cultural, a nossa diversidade paisagística, explorar o turismo de vendas e de negócios, explorar também o turismo de saúde e o desportivo. Estamos a trabalhar em articulação com os ministérios da Educação, da Juventude e do Desporto para promover essas áreas através da construção de infra-estruturas desportivas. Já estamos a fazer o inventário turístico de Cabo Verde para que, até meados do próximo ano, tenhamos identificado todos os núcleos turísticos do país passíveis de serem transformados em oferta turística.
Em relação à legislação, há muita coisa a ser criada e alterada?
Para melhor. Estamos a rever a legislação sobre a instalação e funcionamento dos estabelecimentos hoteleiros e similares. Devido à demanda de empreendimentos com grande qualidade, já temos hotéis com seis estrelas. Então, temos de adaptar a nossa legislação, que só vai até cinco estrelas. Temos grandes resorts que, embora os estejamos a licenciar, temos de os adaptar a uma legislação que data de 1994, o que traz alguns problemas. Mas já temos o primeiro rascunho desta lei que até ao fim deste ano chegará à Assembleia Nacional para ser aprovado pelos deputados. Vamos rever também a Lei de Utilidade Turística, para que seja mais fácil a instalação de estabelecimentos hoteleiros o que, a par do Código de Investimentos aprovado recentemente e de algumas leis que serão aprovadas em breve, vão permitir criar melhores condições para os investidores. Irão ser dadas grandes condições, incentivos e facilidades.
Há ainda mais projectos na calha?
A Lei do Turismo de Cruzeiros já está também a ser trabalhada. Até agora temos sido um país de escala, mas queremos ser um país de destino desde o início. Já temos essa solicitação e estamos a trabalhar nessa lei, que será mais voltada para a organização interna, a preparar o destino dos navios, de forma a bem receber os turistas, para que, depois, possam voltar noutras condições. Vamos ter em breve também a Lei sobre Turismo Rural, pois queremos diversificar a oferta, uma vez que há ilhas que contam com um enorme potencial: Santiago, Santo Antão, São Nicolau, Fogo e Brava. Queremos trabalhar esta vertente e fazer com que o turismo esteja muito mais perto da comunidade. E ao mesmo tempo, arrancar com o projecto “Educar para o Turismo”, que fará a vertente formação, sensibilização e informação junto da comunidade receptora. Está também em curso a revisão da Lei sobre Agências de Viagens e Turismo, que visa criar as condições para o aparecimento de uma operadora turística nacional, de que tanto precisamos. A par de toda esta revolução em termos de legislação, estamos também a incentivar o turismo interno, criando as condições para que o cabo-verdiano possa viajar entre as diversas ilhas e promover Cabo Verde junto da comunidade cabo-verdiana na diáspora.
O país tem vários empreendimentos turísticos em que vigora o sistema “tudo incluído” [alojamento e todas as refeições num único pacote]. Tem sido benéfico ou prejudicial?
O sistema “tudo incluído” tem sido benéfico e é essencial para Cabo Verde. Nesta fase de desenvolvimento é essencial para o país, e continuará a ser. Mas vamos diversificar a oferta, criar o caminho para que o turista saia da unidade hoteleira em que está de férias, para ter contacto com a população local. Queremos que o turista que vem para o Sal consiga visitar São Vicente, Santiago, São Nicolau, Fogo e as outras ilhas. O mesmo é válido para o que vem para a Boavista, ou para qualquer outra ilha. Falta ainda o transporte interno, quer marítimo quer aéreo. O turista vem por uma semana e não quer perder três dias em viagens para visitar uma outra ilha. Queremos que a viagem inter-ilhas seja mais barata e mais rápida, para poder prolongar a permanência e dar tempo para que se conheça o arquipélago. É isso que pretendemos para que o turista possa ter contacto directo com a população. Por isso é que a nova legislação sobre turismo rural é muito importante, porque irá incentivar a relação entre o turista estrangeiro e nacional e a comunidade de destino.
São os dois lados da mesma moeda…
Sim. Isso ajudará também na distribuição da renda.
E a isso juntando-lhe a “morabeza”…
Sim, sem dúvida. Sabemos receber e temos essa arte, a “morabeza”.
Há uma aposta clara no turismo que vem sobretudo da Europa. Mas Cabo Verde está à procura de novos mercados. O Oriente surge como uma boa alternativa?
A atracção de investimentos turísticos está a ser feita através da Cabo Verde Investimentos (CV Invest). Há um plano de marketing feito para o triénio 2010-2013 em articulação entre o Ministério do Turismo e a CV Invest. Estamos a trabalhar nessa vertente de investimento e, paralelamente, queremos atrair também turistas. Queremos que o turista venha, se sinta bem com a “morabeza” e que, no fim, tenha vontade de regressar. E, para isso, estamos já a trabalhar com as companhias aéreas que operam em Cabo Verde e com os operadores tradicionais, sobretudo os portugueses, que foram os primeiros a promover Cabo Verde como destino de férias.
A aposta no mercado asiático é englobada nesse contexto?
Estamos a trabalhar nisso. Temos também as nossas prioridades, pois sabemos que a distância conta. Mas é um mercado atractivo, em que as pessoas têm condições para viajar, têm condições para gastar e daí a nossa aposta.
O mercado asiático está ligado também à ideia que está em curso de ligar o turismo em Cabo Verde aos jogos de fortuna e azar, os casinos?
Poderá vir a ser. Inicialmente, trabalhou-se nessa vertente, na atracção para os jogos de fortuna e azar, mas o país em si não começou a fazer essa promoção, até porque a previsão para a abertura das primeiras casas de jogos está apontada para meados de 2013.