Texto Patrícia Lemos
Fotos Paulo Cordeiro, em Portugal
Maria Xiao é Campeã Nacional de Juniores e a nova Campeã Ibero-Americana. Pelo seu clube, o CTM de Mirandela, venceu em Março o Campeonato Nacional da 1.ª Divisão Feminina de ténis de mesa. Ela é a melhor mesa tenista portuguesa, com acento no ranking mundial, logo seguida por outras duas chinesas, também elas a jogar em Portugal. Agora, sonha representar o seu país de adopção nos Jogos Olímpicos. Como diz o seu pai Daili Xiao, “esse é o grande objectivo da Maria”.
A atleta vai ter de esperar para realizar o seu maior sonho, pois não conseguiu a qualificação para participar este ano. Era “difícil”, admitiu meses antes de receber a notícia que a afastou dos Jogos Olímpicos de Londres, ainda que acreditasse que “tudo é possível”. Apesar de estar mais habituada às vitórias, parece bem preparada para encarar as derrotas, por isso não desiste de um dia ser a primeira atleta de origem chinesa a representar Portugal nos Jogos Olímpicos. E tem tudo para o conseguir, ou não estivesse em terceiro lugar no circuito mundial de juniores. Confiança não lhe falta: “Estou numa boa base”.
Quem também tem dado que falar no mundo do pingue-pongue à séria é Diogo Chen que conquistou duas medalhas em Janeiro. Uma foi de ouro na variante de pares e a outra de prata na competição colectiva, em representação da Selecção da Europa. Ficou na sétima posição a nível individual. Para este jovem atleta, que passou recentemente a competir como júnior, o “Sporting é como uma segunda casa” e Lisboa a sua cidade de eleição.
Maria e Diogo não partilham apenas a paixão pelo ténis de mesa e as raízes chinesas. Eles são ainda filhos de grandes atletas. O pai de Diogo, Si Chen, foi o primeiro desportista chinês a alinhar pelo Sporting (ver caixa) e os pais de Maria, Daili e Yao, ganharam muitos títulos em Portugal na mesma modalidade. Por isso, conhecem-se “desde bebés.”
Sentem-se mais portugueses ou chineses? Diogo apressa-se a responder: “Português, português”. Maria também não tem dúvidas porque, explica, é “em Portugal que passo a maior parte do ano”. Porém, não esconde a costela espanhola. “Nasci em Espanha, onde tenho muitos amigos. É uma alegria ir lá.” Sente-se assim “completamente portuguesa”. Aliás, “fui para a Madeira aos dois anos de idade, porque os meus pais jogavam no CSD Câmara de Lobos”. Nos dias que correm veste as cores do CTM de Mirandela, o clube campeão de Portugal no ténis de mesa.
O pai Daili diz que um dos segredos do sucesso da Maria é o facto de ela estudar a modalidade: “Vê muitos vídeos e aprende com os outros jogadores”. E fala com conhecimento de causa já que é o seu treinador. Se para ele “não é difícil ser pai e treinador”, para o pai de Diogo Chen os problemas são inevitáveis. “Como também é meu filho, às vezes é complicado.” Si Chen gostava que um dia Diogo fosse “um atleta de nível mundial”. Recorda que logo em pequeno mostrou talento para o ténis de mesa, enquanto “o irmão mais velho gosta mais de futebol”. Diz que não é só o jeito do Diogo que está na origem de tantas vitórias. “Ele joga muito com a cabeça e isso é importante, mas tem de evoluir mais tecnicamente.” Exigente como é, o pai treinador sublinha que nesta modalidade é preciso ter bons reflexos, energia e uma boa cabeça. “A experiência é igualmente importante.”
“Em Macau senti-me em casa”
Fartos de viajar pelo mundo para competir e visitar a família na China, tanto Diogo como Maria já estiveram em Macau. Diogo gosta especialmente de ir à China, porque “é sinal de que não há aulas”, diz em tom de brincadeira. Já Maria, que fala mandarim, fica confusa quando se fala em Macau. “É que eu já estive em tanto lugar… Não me recordo bem”, confessa. O atleta lembra-se bem dos casinos e manifesta uma ligação maior à RAEM, muito provavelmente pelas suas ligações familiares a Cantão.
Embora tenha um ar franzino e de mal ter entrado na adolescência, Diogo tem a personalidade vincada pela inteligência. De cara é chinês, mas a conversar é português de A a Z. Como Macau, tem o coração dividido entre a China e Portugal, por isso essa região é especial para ele. “Estive lá em 2010 e lembro-me de me sentir em casa, porque havia portugueses.” Quem conhece Macau de longa data é o pai, pois nasceu lá perto, em Cantão. “Era da selecção chinesa e fui lá enquanto jogador”, lembra.
Sobre uma eventual debandada para a China, terra das novas oportunidades e onde o ténis de mesa é desporto-rei, ambos admitem que se jogassem pela selecção chinesa isso teria um significado especial, “porque quereria dizer que somos muito bons”, garante Maria. Diogo concorda mas sabe bem que “isso é muito difícil”. O pai de Maria espera apenas que a filha apoie a Federação Portuguesa de Ténis de Mesa: “Quero que ela jogue por Portugal”.
Há atletas chineses a jogar no mundo inteiro, “na mesma situação que nós”, por isso ninguém estranha que tantos mesa tenistas do Império do Meio defendam actualmente as cores de outros países. Conforme explica Daili Xiao, “na China, o ténis de mesa é bastante profissional”. A competição é tal, que são muitos os atletas talentosos que ficam de fora e acabam por partir para poderem ser jogadores profissionais noutras partes do mundo.
Maria promete não arrumar as raquetas do ténis de mesa tão cedo. Aliás, “não me imagino de outra forma”. Diogo, que tem tanto talento a jogar ténis quanto sentido humor – e de toque português -, explica que este sonho é para continuar. Já a escola, “pois…vai-se andando. É só passar de ano”.
Impressão digital desportiva
Maria Xiao
Nasceu em Espanha no dia 19 Maio de 1994
Nacionalidade portuguesa
Iniciou a actividade aos seis anos
Treina em média duas horas e meia por dia
Veste as cores do Mirandela
Está na 136.ª posição no ranking mundial de ténis de mesa
Wang Nan é o seu atleta de referência
Diogo Chen
Nasceu em Portugal a 24 de Agosto de 1996
Nacionalidade portuguesa
Iniciou a actividade aos seis anos
Treina em média três horas por dia
Veste as cores do Sporting
Chen Qi e Ma Long são os seus atletas de referência