Num discurso proferido em Dezembro para marcar os trinta anos de reforma e política de abertura da República Popular, Gan Lin, o secretário do Partido Comunista da cidade, sublinhou os principais sectores que irão ser desenvolvidos localmente a médio prazo – alta tecnologia e petroquímica de tecnologia avançada, por forma a que sejam “uma base de serviços modernizada” para Macau e Hong Kong; agricultura sustentada e Educação.
Gan Lin acrescentou que em 2007, Zhuhai registou uma receita média urbana de 19.290 yuans (cerca de 2800 dólares norte-americanos) e uma receita rural de 7622 yuans. A cidade atraiu um investimento estrangeiro directo de 9,498 mil milhões de dólares norte-americanos.
O responsável partidário indicou ainda querer desenvolver Zhuhai de forma diferente das outras cidades do Delta do Rio das Pérolas, como Zhongshan, Jiangmen, Foshan e Dongguan, que fizeram da produção industrial a sua base de sustentação.
Zhuhai já faz do turismo, do ambiente e da Educação os seus sectores mais importantes, tendo a produção industrial um papel secundário embora ainda muito visível.
Actualmente, e para um investidor estrangeiro, os sectores em potência são a hotelaria, a restauração, o desporto e lazer, o comércio e as instalações médicas, especialmente as que visam os aposentados provenientes do resto da China, que se mudaram para Zhuhai.
O ramo imobiliário é outro sector chave – embora os preços tenham descido no ano passado e a cidade esteja cheia de edifícios semi-acabados e vazios, especialmente na área junto à orla marítima. Nos tempos que correm, o investidor deve ser cauteloso na escolha do projecto, especialmente aquelas que se destinam ao mercado de luxo.
A título de exemplo, nos finais de Dezembro, um empreiteiro da cidade colocou um anúncio no jornal Guangzhou Daily indicando que se alguém comprasse um apartamento contra um pagamento inicial de pelo menos 150 mil yuans (quase 22 mil dólares norte-americanos), o empreiteiro pagaria as despesas relacionadas com o nascimento de um filho do comprador do apartamento, fora da China Continental. O dono do apartamento teria apenas que tratar das formalidades administrativas relacionadas com o visto de permanência no local onde o filho ia nascer. (O anúncio recordava que se a criança nascesse em Hong Kong, passaria a ter residência automática – uma política que atrai muitos chineses do Continente.) O empreiteiro encarregar-se-ia das viagens, estada e conta do hospital. Uma oferta que reflecte o desespero dos empreiteiros de Zhuhai…
Em Zhuhai a caminho de Macau
Muitos compradores de bens imóveis em Zhuhai não vivem na cidade – são residentes de outras regiões da China, incluindo Hong Kong e Macau, ou chineses ultramarinos que compram em jeito de investimento ou como segunda casa e casa de férias. Muitos desses proprietários visitam a cidade apenas algumas semanas por ano. Esta tendência faz com que o mercado de procura de habitação em Zhuhai não seja constante.
No entanto, os residentes de Macau têm um peso importante nessa procura. Muitos mudaram a residência de Macau para Zhuhai porque os preços das casas são substancialmente mais baratos do que em Macau e porque é relativamente fácil atravessar a fronteira diariamente. Há quem trabalhe na RAEM e viva em Zhuhai. Para o investidor interessado, este é um nicho com potencial.
Zhuhai é alvo de uma procura turística constante por parte dos visitantes do interior do País, que depois se dirigem a Macau. Esses turistas internos procuram os casinos da Região Administrativa Especial de Macau. Dos 7,58 milhões de visitantes que Zhuhai recebeu em 2007, 5,53 milhões eram provenientes do interior e grande parte cruzou a fronteiras com destino a Macau. Tendo em conta que Macau irá manter o monopólio do jogo na China, já que o Governo Central não aprovará casinos em qualquer outra cidade, os viajantes que vão a Zhuhai para depois entrar na RAEM representam uma tendência em crescimento. E enquanto estão em Zhuhai, esses turistas não só procuram apartamentos. Muitos têm necessidade de ficar em hotéis.
Investidores escolhidos a dedo
A cidade de Zhuhai tem-se mostrado selectiva na aprovação de pedidos de investimento. As autoridades locais estão particularmente interessadas na alta tecnologia e estabeleceram áreas geográficas dedicadas ao desenvolvimento deste sector. Outras áreas de grande aposta são a agricultura sustentada, em especial a agricultura orgânica; a Educação e a prestação de serviços relacionados com Hong Kong e Macau.
E para o investidor mais arrojado, o lugar cobiçado é a ilha de Hengqin (ilha da Montanha), a maior ilha de Zhuhai, com uma área de 86 quilómetros quadrados e a escassos metros de Macau.
O ‘poder’ da ilha de Henqin
Durante uma visita a Macau em Janeiro, o Vice-Presidente chinês Xi Jinping afirmou que Hengqin, com uma população de apenas 6500 habitantes, proporcionaria o espaço extra para Macau diversificar a sua economia fora do sector do jogo.
O futuro da ilha poderá mudar em breve. De entre as muitas ideias em discussão, encontra-se a construção de hotéis, campos de golfe, courts de ténis e outras instalações de lazer e turísticas para as quais não há espaço disponível em Macau. Por exemplo, os responsáveis do Parque de Safari de Chang Long, em Panyu, na província de Guangzhou, foram inquiridos recentemente sobre o interesse daquela empresa em construir um parque semelhante em Hengqin. Outra proposta recente é a mudança do campus da Universidade de Macau para a ilha. Zhuhai já tem mais de uma dúzia de núcleos de universidades do continente.
Centro de logística
Outro sector promissor em Zhuhai é o da logística. Em 2008, as exportações de Zhuhai atingiram os 21,13 mil milhões de dólares norte-americanos, mais 14,4 por cento do que em 2007, e as importações 25,7 mil milhões de dólares norte-americanos, representando uma subida de 20 por cento. Mas em Novembro de 2008 as exportações caíram pela primeira vez 14,95 por cento relativamente ao período homólogo do ano anterior e em Dezembro caíram 15 por cento. São efeitos da recessão global.
Entre Janeiro e Novembro de 2008, as exportações através do Porto de Gaolan da cidade atingiram os dois mil milhões de dólares americanos, o que representou uma subida de 140 por cento, enquanto as importações totalizaram 3,2 mil milhões de dólares americanos, representando um aumento de 57 por cento. E os analistas estão confiantes de que o movimento de contentores vai aumentar porque está em construção um novo porto de contentores com capacidade para 50 mil toneladas.
Além do novo porto, em 2011 estará terminada a construção da linha-férrea que ligará Zhuhai à capital da província, Guangzhou (em português, Cantão). A cidade quer tornar o porto de Gaolan, com uma capacidade de 2,3 milhões de TEU (UEV – unidade equivalente a 20 pés), no principal centro de exportações para servir as cidades situadas no lado sul do Delta do Rio das Pérolas.
O circuito turístico
Em Outubro de 1860 as tropas britânicas e francesas pilharam e queimaram o Palácio de Verão do imperador, em Pequim, onde a família imperial viveu e controlou os negócios de Estado. Os governos subsequentes deixaram o local em ruínas, como forma de educação da população sobre as consequências do domínio estrangeiro.
Se for hoje a Pequim, apenas verá ruínas. Mas se for a Zhuhai, poderá ver uma réplica do palácio, terminada em 1997, que cobre uma área de 1,39 quilómetros quadrados, e inclui um lago com 80 mil metros quadrados.
O “Novo Yuanming Yuan” é a atracção turística mais famosa numa cidade – recheada de jardins, passeios, praias, restaurantes que vendem frutos do mar e salões de beleza e massagens muito mais baratos do que em Macau.
O acesso ao palácio custa 120 yuans (cerca de 17 dólares norte-americanos). À noite, um espectáculo musical ao estilo da Broadway apresenta danças tradicionais chinesas.
Para os habitantes de Macau, Zhuhai é a cidade mais próxima e mais conveniente da China. Uma vez cruzada a fronteira terrestre, o visitante chega directamente ao coração da cidade que, nos finais dos anos 1970, não passava de um grupo de aldeias de pescadores. Hoje, é uma metrópole com 1,45 milhões de habitantes.
Quase tudo em Zhuhai foi construído a partir do dia em que Deng Xiaoping declarou a cidade uma Zona Económica Especial (ZEE), em 1980. Para o visitante que chega de Macau, a pé, a primeira estrutura que vê é um gigantesco centro comercial subterrâneo, contíguo à fronteira, com várias centenas de lojas e quiosques, onde se vende e se oferece de tudo e a todos os preços: roupas, sapatos, pedras, jade, jóias, relógios, material electrónico, carteiras e malas de viagem, assim como restaurantes, serviços de manicura e pedicura e massagens.
Este distrito, próximo da fronteira, chama-se Gongbei, e é a área mais superlotada e cara de Zhuhai, muito popular entre os turistas.
O distrito, cheio de vida durante o dia, mantém muita animação à noite, porque está pejado de ruas pedonais, quiosques e tendinhas ao ar livre que vendem comidas e bebidas, assim como bares e clubes nocturnos.
A área da orla marítima e aos jardins adjacentes permitem ao visitante fugir das compras e azáfama dos centros comerciais e lojas de rua. Esses jardins deram à cidade um prémio internacional – pela melhoria das condições ambientais e de vida – atribuído em 1998 pela UN-Habitat (Agência das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos).
A cidade não olhou a custos para construir e manter uma frente de mar que hoje é encantadora, com relvados, árvores e flores. Uma dessas áreas é conhecida como o “passeio dos amantes”.
Nadar e muito marisco
Juntamente com Gongbei, os dois principais distritos urbanos de Zhuhai são Xiangzhou e Jida, onde estão o governo da cidade, os arranha-céus e as principais áreas residenciais e comerciais. Nesses distritos existem muitas lojas com produtos de boa qualidade, assim como os omnipresentes restaurantes, incluindo uma filial da grande loja japonesa Jusco e um centro comercial especializado produtos informáticos e que tem muito sucesso junto dos estrangeiros.
As massagens, tratamento de beleza ou cortes de cabelo custam uma fracção dos preços de Macau. A cozinha em Zhuhai é variada, já que tem de servir pessoas de todas as partes da China: menos de metade dos residentes da cidade são nativos da região. O marisco é prato famoso da cidade, especialmente o caranguejo, a lagosta, as lulas e as ostras.
Um verdadeiro deleite são os restaurantes em Hengqin (ilha da Montanha), a ilha em frente à Taipa, na RAEM, onde existe um posto de imigração raramente usado. Com os seus 86 quilómetros quadrados, Hengqin é a maior das 146 ilhas que compõem a cidade de Zhuhai.
A ilha tem apenas 6500 habitantes. Está quase deserta. Existem restaurantes que servem mariscos frescos que podem ser comidos ao ar livre, com vista para o maior casino do mundo – Venetian. Esses restaurantes estão praticamente sobre a água. Para quem gosta de caminhadas, as praias arenosas as colinas onduladas da ilha são uma boa opção.
Para os amantes de história, a cidade de Zhuhai oferece o Museu de Zhuhai que tem algo, mas não muito, para ver. Mas Tangjiawan, um subúrbio a norte, ao longo da costa, que foi habitada durante várias centenas de anos, de degradado, mantém as casas originais, com mais de cem anos. Hoje, quase ninguém lá vive.
Mais impressionantes são as antigas casas do filho mais famoso de Tangjiawan, Sun Yat-sen (1859-1938), o primeiro presidente da República da China em 1912 e um diplomata pioneiro. Os visitantes podem ver a casa onde Sun Yat-sen nasceu, bem como a enorme propriedade, mais tarde legada à cidade – Gongleyuan (Parque da Felicidade Comum) -, que é hoje um museu dedicado a Sun Yat-sen, com milhares de árvores que o próprio trouxe das viagens que fez pela Ásia.
Tangjiawan é também o local onde vários campus de universidades famosas, de toda a China, se instalaram. A cidade atraiu essas instituições de ensino oferecendo terreno grátis e incentivos fiscais. O campus da Universidade Normal de Pequim, rodeada de verdura contra um fundo de montanhas, chega a ser mais espaçoso que o seu próprio campus na capital.
Tangjiawan também tem uma pista de Fórmula 1, construída para atrair aquele evento global – mas Xangai construiu uma melhor e é hoje a anfitriã do evento anual. Não muito longe existe um campo de golfe considerado pelos amadores da modalidade como sendo excelente. Muitos jogadores de Hong Kong frequentam o campo de Tangjiawan.
Outro local com interesse é a aldeia de Meixi e a casa de Chen Fang, um nativo que fez fortuna no Havai com a venda a retalho e de açúcar, e que regressou para construir uma mansão que ocupa 5,742 metros quadrados. A propriedade inclui um templo ancestral da família Chen, três casas tradicionais e um edifício de estilo ocidental.
Dicas práticas para os visitantes
O clima em Zhuhai é igual ao de Macau, com 90 por cento do total de pluviosidade a registar-se entre Maio e Outubro, e uma temperatura média anual de 22 graus. As melhores épocas para visitar Zhuhai são a Primavera e o Outono, quando a temperatura é amena e a chuva improvável.
Em Zhuhai poucas pessoas falam inglês. A língua franca é o Cantonês mas, hoje em dia, uma grande parte da população vem de fora e fala Mandarim.
Zhuhai não tem metro mas possui uma rede excelente de autocarros públicos e de barcos, com ligações regulares para Zhongshan, Foshan, Cantão e outras cidades em Guangdong, bem como barcos que atravessam o Rio das Pérolas em direcção a Hong Kong, Shenzhen e Macau, entre outras localidades.
Mark O’Neill