Tong Chi Kin Educador e humanista

O crescimento de uma cultura moral na sociedade depende da transmissão de valores éticos à juventude

 

Aos 66 anos, Tong Chi Kin é visto como um dos patriarcas da educação em Macau. Quem convive com ele regularmente fala de um homem cordato, humanista, tradicional e muito empenhado não somente na área educativa mas, em geral, na melhoria da qualidade de vida da sociedade.

Tong está ligado há vários anos anos à Associação Geral dos Operários de Macau, sendo director da Escola Secundária dos Filhos dos Trabalhadores de Macau. Mantém uma forte ligação à Universidade Normal do Sul da China, em Cantão, instituição onde se formou em Física e onde exerce as funções de professor convidado. Na RAEM é membro do Conselho da Universidade e do Conselho da Educação.

Politicamente deu mais nas vistas a partir de 1988 quando passou a fazer parte do Conselho Consultivo do Governo de Macau, lugar que abandonou em 1992, ano em que passou a integrar a Assembleia Legislativa. Continuou no hemiciclo até 2005, altura em que abandonou o lugar de deputado. Actualmente aparece mais vezes nos meios de comunicação como porta-voz do Conselho Executivo do Governo da RAEM, mas o seu tempo é ocupado com outras responsabilidades. Tong Chi Kin é também presidente do Centro Incubador de Novas Tecnologias e do Fundo para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia.

O serviço público prestado à RAEM foi reconhecido em várias ocasiões. Em 2005, o Chefe do Executivo atribuiu-lhe o grau honorífico mais elevado: a Medalha de Honra de Lótus de Ouro.

Com um percurso ligado à educação desde há várias décadas, Tong olha com alguma preocupação para o perigo da degradação ao nível dos valores de uma parte dos jovens de Macau. Numa altura em que a sociedade da RAEM está a viver tempos de mudanças muito rápidas com todo o desenvolvimento do sector do jogo e do turismo, Tong realça que é muito importante que as escolas e os professores estejam aptos para responder a essas alterações.

A resposta passa por uma análise lúcida dos desafios do presente e pela valorização dos pensadores clássicos. Nesse sentido, sublinha, na entrevista concedida à MACAU, que os ensinamentos de filósofos e educadores como Confúcio são bastante actuais hoje em dia, dado que podem contribuir para que a sociedade, nomeadamente os mais jovens, lide com estas mudanças de uma forma positiva.

Aos 66 anos, Tong Chi Kin é visto como um dos patriarcas da educação em Macau. Quem convive com ele regularmente fala de um homem cordato, humanista, tradicional e muito empenhado não somente na área educativa mas, em geral, na melhoria da qualidade de vida da sociedade.

Tong está ligado há vários anos anos à Associação Geral dos Operários de Macau, sendo director da Escola Secundária dos Filhos dos Trabalhadores de Macau. Mantém uma forte ligação à Universidade Normal do Sul da China, em Cantão, instituição onde se formou em Física e onde exerce as funções de professor convidado. Na RAEM é membro do Conselho da Universidade e do Conselho da Educação.

Politicamente deu mais nas vistas a partir de 1988 quando passou a fazer parte do Conselho Consultivo do Governo de Macau, lugar que abandonou em 1992, ano em que passou a integrar a Assembleia Legislativa. Continuou no hemiciclo até 2005, altura em que abandonou o lugar de deputado. Actualmente aparece mais vezes nos meios de comunicação como porta-voz do Conselho Executivo do Governo da RAEM, mas o seu tempo é ocupado com outras responsabilidades. Tong Chi Kin é também presidente do Centro Incubador de Novas Tecnologias e do Fundo para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia.

O serviço público prestado à RAEM foi reconhecido em várias ocasiões. Em 2005, o Chefe do Executivo atribuiu-lhe o grau honorífico mais elevado: a Medalha de Honra de Lótus de Ouro.

Com um percurso ligado à educação desde há várias décadas, Tong olha com alguma preocupação para o perigo da degradação ao nível dos valores de uma parte dos jovens de Macau. Numa altura em que a sociedade da RAEM está a viver tempos de mudanças muito rápidas com todo o desenvolvimento do sector do jogo e do turismo, Tong realça que é muito importante que as escolas e os professores estejam aptos para responder a essas alterações.

A resposta passa por uma análise lúcida dos desafios do presente e pela valorização dos pensadores clássicos. Nesse sentido, sublinha, na entrevista concedida à MACAU, que os ensinamentos de filósofos e educadores como Confúcio são bastante actuais hoje em dia, dado que podem contribuir para que a sociedade, nomeadamente os mais jovens, lide com estas mudanças de uma forma positiva.

 

Desafios em tempo de mudanças

 

O rápido ritmo de desenvolvimento da sociedade de Macau requer uma postura activa por parte das autoridades da RAEM e da sociedade civil com vista ao equilíbrio entre a mudança e a preservação dos valores essenciais da Região.

Esta ideia está presente nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2007, tendo o Chefe do Executivo salientado, durante a apresentação das mesmas, que “a mudança e o comprometimento são os dois pilares da construção da sociedade harmoniosa”.

Segundo as LAG para 2007, para que seja alcançada a harmonia social é importante que a sociedade seja mobilizada para enfrentar os desafios e por vezes para lidar com alguns sacrifícios resultantes do processo de desenvolvimento de Macau. E para que isso seja exequível o aperfeiçoamento do Estado de Direito assume um papel crucial na institucionalização dos conflitos sociais.

Paralelamente, com o objectivo de responder aos desafios colocados ao nível dos valores sociais, torna-se essencial o reforço de uma cultura da ética da responsabilidade. Na perspectiva do Executivo da RAEM “o crescimento de uma cultura moral na sociedade depende da transmissão de valores éticos à juventude”.

Os desafios são significativos e todos terão de agir para que a qualidade dos recursos humanos de Macau melhore. Mais concretamente, o sistema educativo deve “estimular a curiosidade intelectual dos estudantes” e fomentar o “espírito crítico fundamentado numa postura científica de dúvida metódica”. Só assim os jovens da RAEM poderão estar em condições de fazer juízos assertivos sobre uma realidade em constante mutação. A extensão da gratuitidade do ensino até ao final do secundário, que entrará em vigor no ano lectivo 2007/2008, é, desde logo, um objectivo estratégico neste processo.

Ao nível do ensino universitário, para que os estudantes sejam uma “elite de vanguarda da comunidade intelectual” da RAEM, a promoção da criatividade e de “um ensino multifacetado” permitirá que esses jovens tenham “capacidades polivalentes” e “uma visão mais alargada” do mundo.

Uma sociedade mais criativa e com ideias originais constrói-se igualmente com base numa cultura geral sedimentada nas obras clássicas da literatura mundial. Assim, é anunciado que o Executivo vai promover cursos não curriculares gratuitos de “divulgação de conhecimentos de literatura, história, ciência das religiões e filosofia que valorizem o conteúdo humanista e a racionalidade”. A porta estará assim aberta para que “pensadores com ideias originais e de elevado prestígio intelectual possam ter um fórum para expor as suas teorias”.

 

«É preciso estimular a maneira de pensar»

 

Em todo o caso, apesar destas mudanças ocorridas em Macau, os valores essenciais da sociedade mantêm-se. O mais importante é que o sistema educativo reflicta a nova realidade para responder a esta tendência, que afecta sobretudo os mais jovens.

– Como é que o sistema educativo deve reflectir essa nova realidade e de que modo deve responder a essas mudanças?

– A situação em Macau apresenta vários desafios. Um dos aspectos mais preocupantes tem a ver com o abandono escolar. Muitos jovens estão a deixar de estudar devido às ofertas salariais atraentes dos casinos, o que faz com que vários estudantes não queiram entrar na universidade porque assim que fazem 16 anos podem arranjar empregos no sector do jogo, a ganhar dez mil patacas por mês. Antes, os jovens pensavam em ter melhores resultados académicos para terem uma melhor posição na sociedade.

Isto tem tido um impacto muito grande no sector da educação. Se os jovens continuarem com esta atitude, passado algum tempo os valores vão deteriorar-se. Esta situação pode ter um impacto muito grande na qualidade cultural e intelectual da RAEM. Se esta tendência se acentuar, Macau não poderá verdadeiramente progredir. Toda esta deterioração dos valores vai afectar a sua maneira de pensar, na maneira como avaliam a realidade e como sentem o que os rodeia.

O papel da educação é trazer os estudantes de volta para o caminho correcto. É preciso estimular a sua maneira de pensar. É necessário dar maior ênfase à educação moral. Actualmente, as escolas em Macau também ensinam educação moral e ética, mas fazem-no como no passado. As escolas têm de levar a cabo educação moral e ética com destaque específico nas mudanças na sociedade e também no efeito que isso tem nos estudantes. Os professores também precisam de se adaptar a estas alterações sociais para que possam entender o que está de facto a acontecer, para que sejam capazes de ensinar. A maior responsabilidade dos professores é ajudar a desenvolver as capacidades cognitivas dos estudantes, a forma de pensarem. Devem permitir que eles percebam as mudanças na sociedade, para que possam, face à realidade, tomar as decisões. Todos estes desafios estão a ser estudados e analisados por especialistas que procuram obter respostas sobre como é que o sistema educativo deve lidar com a nova realidade.

 

– Macau acolheu uma conferência internacional sobre confucionismo onde foi debatida a actualidade do pensamento de Confúcio. Em que medida é que as ideias defendidas por este filósofo e educador são válidas na actual sociedade de Macau?

 

– Desde logo, o confucionismo é uma filosofia de vida segundo a qual o ser humano é o centro de tudo. Hoje em dia, devemos desenvolver mais os seus ensinamentos que se mantêm, passados mais de dois mil anos, bastante actuais. De entre os valores confucianos, um dos mais importantes para Macau de hoje está relacionado com a vertente educativa e ética de Confúcio. Um dos principais princípios a este nível é “ensinar sem discriminação”. Os professores devem ser constantemente relembrados deste valor, já que, na educação de agora, esta ideia está a ser desvalorizada.

– Qual deve ser o papel dos professores?

– Os professores devem dar atenção a todo o tipo de estudantes, quer aos que têm boas notas, quer aos que têm maiores dificuldades. Outro princípio é “não se sentir envergonhado de fazer perguntas”. Quer isto dizer que, se as pessoas não percebem, devem ter a iniciativa e não ter receio de perguntar. Isto não é totalmente aplicado. Professores e alunos não estão preparados para pôr em prática este princípio. Além destes dois princípios, Confúcio também se debruçou sobre como delinear objectivos e valores e como é que as pessoas devem viver as suas vidas. A filosofia educativa proposta por Confúcio é muito boa e devia ser mais promovida no sistema educativo de hoje em dia.

Um outro exemplo aplicável é: “aprende e aplica o que aprendes o máximo que puderes”.

Actualmente, os estudantes só aprendem memorizando, mas não aplicam esses conhecimentos. Mas, de facto, há que reconhecer que a sociedade está a mudar de forma tão rápida que nem professores nem estudantes têm formas de aplicar este lema.

Em termos mais gerais, na verdade, em Macau, existem poucas associações que se dediquem especificamente ao estudo do confucionismo. Isto acontece porque os ensinamentos de Confúcio estão já bastante impregnados na sociedade local.

 

– O Governo Central e o Chefe do Executivo têm falado sobre a importância de construir uma sociedade harmoniosa. Quais são as premissas e características desse tipo de sociedade?

 

– Em meu entender há vários critérios que devem ser preenchidos para construir uma sociedade harmoniosa. Em primeiro lugar, é importante existir prosperidade económica, para que haja, continuamente, uma melhoria da qualidade de vida das pessoas. Em segundo lugar, as pessoas de diferentes profissões e com níveis de conhecimento diferentes devem ser respeitadas pelo que fazem e pelo que são. Por exemplo, um professor, um condutor de autocarro devem ser respeitados sem discriminação. Se houver falta de respeito, a sociedade não pode estar em harmonia.

Em terceiro, é necessário que haja um aperfeiçoamento da democracia, especialmente em termos de liberdade de expressão. Confúcio dizia “ter semelhanças, mantendo a diversidade”. Para que isto funcione é importante ter um sistema legal eficaz. Aliás, o sistema legal deve evoluir em simultâneo com a democratização.

Em quarto lugar, ter um espírito inovador para que haja mudanças numa sociedade com lei e ordem. Se a sociedade estiver estagnada, não será harmoniosa. Terá que haver uma harmonia dinâmica.

O quinto critério diz respeito aos valores. Uma sociedade  harmoniosa deve ter um conjunto de valores que deve ser partilhado por todos, especialmente, no que diz respeito aos valores morais que devem ser centrais numa sociedade. Só assim as pessoas poderão viver de uma maneira feliz. E a felicidade leva à harmonia.

 

– A medicina tradicional chinesa está a despertar grande curiosidade em todo o mundo. Em Macau existe um projecto para a criação de um centro de investigação de grande dimensão que coloque a RAEM no mapa regional da medicina tradicional chinesa. Que passos têm sido dados nesse sentido?

– Neste momento estão a ser efectuados estudos de viabilização de um grande instituto de investigação em medicina tradicional chinesa em Macau. Mas, na verdade, existe já muita gente a trabalhar nesta área. Por exemplo, na Fundação para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia temos dado bastantes apoios nesta área. Cerca de 30 por cento dos subsídios que concedemos estão relacionados com a medicina tradicional chinesa. Hoje em dia a Universidade de Macau e a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau têm já centros de investigação. Existem, de resto, várias associações e centros de estudo que mantêm contactos regulares com outras entidades do exterior. Ainda não sabemos quando é que o centro poderá arrancar. É importante que os centros e associações já existentes possam reforçar os laços com parceiros externos a Macau.

No relacionamento com o exterior, julgo que seria de todo o interesse criar laços com os países lusófonos, uma vez que Macau é uma plataforma de cooperação com as nações de língua portuguesa.

Nesses países, especialmente em África, há plantas e ervas que poderão ser estudadas. Era interessante que pudéssemos cooperar com as autoridades desses países de forma a fazer um estudo sobre as potencialidades medicinais das ervas e plantas.

 

– A Associação do Ensino Superior de Macau (de que é presidente) tem dado apoios a estudantes de Macau que queiram ir estudar para Portugal. Como tem decorrido este processo?

 

– O programa de envio de estudantes para Portugal começou em 1987. Em 2004 o plano foi renovado e desde então têm sido enviados, em média dez estudantes por ano, recomendados pelos directores de escolas secundárias de Macau, para estudar Direito em Portugal.

Além disso, também temos concedido subsídios a estudantes do ensino secundário que desejem estudar em Portugal durante dois anos, antes de entrarem para a universidade. Há ainda dez vagas por ano destinadas a estudantes de Macau que pretendam fazer mestrados ligados à área do Direito.