Vinte anos depois de criada, a Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP) passa “do Cabo das Tormentas ao Cabo da Boa Esperança”. A expressão foi usada pelo presidente da organização, João Pinto Guerreiro, espelhando a onda de confiança e optimismo levantada pelo XVI Encontro da AULP decorrido em Macau entre 12 e 16 de Junho do corrente ano.
Tendo por objectivo emblemático a criação de um espaço único onde circulem alunos, professores e investigadores do mundo de língua portuguesa (o Espaço de Ensino Superior e de Investigação dos Países de Língua Portuguesa), a organização parece agora ter entrado numa nova etapa, mais direccionada para acções concretas.
A Universidade de Macau (UM), uma das entidades organizadoras do encontro, decidiu dar um primeiro passo na concretização de projectos, ao propor dinamizar o portal electrónico da AULP, incluindo conteúdos programáticos de interesse para o público e actualizando regularmente a informação. Para o efeito, e porque existiam subsídios do governo que assim o permitiram, foi contratada uma empresa especializada para dar forma ao portal, o que está a ser feito em Portugal, devendo estar concluído ainda este ano, como espera o vice-reitor da UM, Rui Martins. Um passo importante para que a Universidade assuma responsabilidades no apoio tecnológico à futura Universidade Virtual de Língua Portuguesa, tal como sugerido no final do encontro. Por outro lado, e segundo o mesmo responsável, a UM poderá constituir-se em mais um ponto na rede “Universia” do grupo bancário Santander, que reúne mais de 900 universidades do espaço ibero-latino-americano.
Delineado, e com andamento previsto para breve, ficou também o projecto apresentado pelo académico e linguista Malaca Casteleiro, visando a constituição de uma rede de estudos de formação avançada na área do português como língua estrangeira e língua segunda, que compreenderá parcerias com a Universidade de Brasília (Brasil), a Universidade Agostinho Neto (Angola), o Instituto Superior de Educação de Cabo Verde, a Universidade de Macau e o Instituto Politécnico de Macau.
O encontro contou com a presença de representantes dos ministros da educação e do ensino superior, e com a participação do secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Luís Fonseca. Tal participação marcou uma das diferenças deste evento, representando para os membros da AULP um sinal de maior proximidade e perspectivas de melhor colaboração entre as duas organizações. Criada dez anos depois da AULP, mas tendo por modelo inspirador a primeira, a CPLP continua à procura de meios que possam garantir uma melhor coordenação entre as duas organizações.
O presidente da AULP deixou clara a necessidade de uma maior intervenção dos Estados da CPLP ao sublinhar as intenções da associação: “É preciso encontrar instrumentos que possam, a partir das universidades que tenham mais competências ou maior tradição, ajudar aquelas que estão ainda em fase de instalação ou crescimento, criar programas de mestrado e de doutoramento em conjunto. Interessa que haja uma tentativa de compatibilização ou processos de equivalência para fomentar a mobilidade de estudantes, docentes e investigadores para criar projectos sólidos de investigação científica no seio do imenso mar que abarca as universidades de língua portuguesa.”
No fundo, o que se pretende é algo de semelhante ao europeu “processo de Bolonha” adaptado às universidades lusófonas, o que só se torna possível através de acordos entre os oito países de língua portuguesa.
O ponto de viragem dá-se ainda, segundo Rui Martins, através de uma maior consciencialização dos académicos: “É agora ou nunca. Se não se materializa qualquer coisa, perdemos o barco. Os países africanos já estão envolvidos nas universidades francófonas e anglófonas.”
O desvio para universidades francófonas e anglófonas é um risco que a AULP não deve correr, podendo o ensino superior em língua portuguesa perder a oportunidade de se expandir. Maria Antónia Espadinha que dirige o Departamento de Português da UM, vê esse risco mas espera que tal não venha a acontecer, até porque tem havido esforços no sentido de uma melhor cooperação. Acrescenta ainda que compete também às universidades serem fontes geradoras de conhecimento e cada uma ter os seus próprios especialistas.
Uma maior ligação com a CPLP ficou acordada através do estatuto de observador privilegiado e de órgão consultivo atribuído à AULP. Para a Directora do Departamento de Português da UM, esta pode ser uma grande vantagem também para a CPLP porque “o espaço lusófono do ensino superior é o que gere os outros espaços”. Maria Antónia Espadinha pormenoriza esta ideia: “Para se ter professores é preciso que sejam formados, para se ter intelectuais é preciso que sejam formados e não é só na questão da língua portuguesa, é em vários aspectos. É nas universidades que se criam potenciais futuros gestores, políticos, entre outros.”
Espera-se, através desta maior ligação entre AULP e CPLP, que algumas questões prementes, como a mobilidade de alunos de uns países para outros, sejam mais facilitadas. A questão será aprofundada no próximo encontro que deverá ter lugar no Brasil ou em Cabo Verde. São vários os obstáculos de ordem burocrática que impedem até a entrada de alunos. “Foi nesse sentido que se falou na necessidade de sensibilizar os governos envolvidos, diz Rui Martins. Por outras palavras, “quer-se o intercâmbio de alunos, mas não estão criados os mecanismos burocráticos para permitir que isso aconteça”.
O cargo de secretário-geral da AULP, vago desde a saída de Alarcão Troni, ex-secretário adjunto do Governo de Macau antes da transferência de administração, ficou preenchido com a nomeação de Cristina Sarmento, docente da Universidade Nova de Lisboa, deixando completa a estrutura da organização e sobretudo, reavendo as vantagens funcionais do cargo.
Acções e projectos a ganharem corpo o que, para os participantes do terceiro encontro realizado em Macau, justificam a crença num novo rumo e numa viragem dinâmica da AULP. Assim se confirmem as expectativas, o optimismo e já agora o ditado: “à terceira é de vez”.
XVI Encontro da AULP
AULP – Associação das Universidades de Língua Portuguesa.
Trata-se de uma Organização Não Governamental de Desenvolvimento de Utilidade Pública Internacional.
Fundação: Foi estabelecida em 1986 na cidade da Praia, Cabo Verde.
Membros: Agrega mais de uma centena de universidades, institutos politécnicos e instituições de investigação científica de Angola, , Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e , Timor-Leste.
Órgãos sociais: Presidente – Universidade do Algarve; Vice-Presidentes – Universidade Estadual Paulista (Brasil), Universidade Agostinho Neto (Angola), Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) e Universidade de Macau.
Participantes: cerca de 200, um dos maiores encontros da AULP.
Promotores: Universidade de Macau, Instituto Politécnico de Macau, Instituto de Formação Turística (Macau)
Patrocínio: Governo da RAEM, Fundação Macau
Temas de debate: “Língua Portuguesa, Multiculturalismo e Cooperação Económica”; “Espaço do Ensino Superior e Investigação dos Países de Língua Portuguesa”; “Fórum para a Cooperação Económica entre a China e os Países de Língua Portuguesa” (embora no programa do encontro estivesse com Macau, a designação correcta é sem Macau); “Espaço da Língua Portuguesa no Mundo – Ensino Superior, Investigação, Mobilidade de Docentes e Alunos, Multiculturalismo e Afirmação Económica”.
O Governo da RAEM está particularmente empenhado na criação das condições indispensáveis, e também as necessárias, que permitam às instituições de ensino superior potenciar o seu desenvolvimento. (…) Sabemos que o facto de partilharmos uma história com raízes, língua e valores comuns nos permite acreditar que juntos poderemos fazer melhor em prol do desenvolvimento dos nossos povos, já que a qualificação das pessoas, o ensino e a aprendizagem que o ensino propicia – desafios que partilhamos – são essenciais para o desenvolvimento dos nossos países. (…) Estamos convictos que este encontro permitirá estreitar as relações entre os diversos membros, e Macau está, aliás como sempre esteve, empenhado em participar activamente e contribuir de forma construtiva para o aprofundamento deste relacionamento.
Fernando Chui Sai On
Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura
Região Administrativa Especial de Macau
(Excertos da mensagem de abertura do Encontro)