Foi numa antiga fábrica chinesa feita edifício de escritórios na zona de Chan Wai, em Hong Kong, que abriu o seu consultório de marcas. Com mais de 500 prémios ganhos em cerca de 20 anos de carreira, Tommy Li é hoje um conceituado nome do design na China e no Japão.
É um enfant terrible com alma de artista e a ingenuidade de quem vive entre o mundo real e o dos sonhos. No seu ateliê habitam fadas e duendes, candeeiros de cabeleira afro, marionetas de corda e super-heróis de banda desenhada. Há garrafas de bom vinho a decorar as prateleiras e cartazes do Ayrton de Senna nas paredes. É o mundo das memórias de encantar de Tommy. Ali se passeia pelo detalhe da sua imaginação. Em dois andares sobem e descem as fantasias de Tommy Li.
“Gosto de pensar que sou uma espécie de médico de marcas”. Os clientes, que vêm do Japão, de Pequim e até de Macau ficam na sala de espera, porque Tommy tem uma agenda muito preenchida e na sua empresa trabalham apenas nove designers e três assistentes. “Não quero que o ateliê cresça mais para assim poder manter o mesmo espírito de trabalho”. Quem lhe bate à porta conhece este furacão de ideias e “espera ser surpreendido”. Gosta de criar uma revolução nas marcas e obrar profundas operações de marketing e design.
Primeiro, faz o diagnóstico e os argumentos afiados como bisturis completam a prescrição de sucesso com aparentes margens de riscos. Mas a visão é microscópica e certeira. O coração é de artista, mas o cérebro de Tommy Li é muito científico.
É sobretudo na área de branding que opera, mas também faz design de produto, gráfico e até de interior, “porque o design é tudo”.
Decorado como se fosse a sua própria casa, o ateliê de Li tem o conforto de uma segunda morada. “Podem ligar-me às duas da manhã e é possível que ainda esteja a trabalhar”. Na companhia de bustos de Mao Zedong, que colecciona há muitos anos, a arte das esculturas e das pinturas, Tommy mergulha num mundo que o inspira e é redoma desta filosofia de trabalho muito pessoal, entre a oriental e a ocidental. Afinal, nasceu em Hong Kong mas estudou no Reino Unido. “Fiquei em Hong Kong porque era aqui que queria criar”.
Os seus designers são chineses, jovens e neles se renova o mesmo entusiasmo pelo trabalho. Criam entre aquários de peixes e sereias, livros de design e postais com imagens de Miró, um dos pintores modernistas fundamentais para o design. É nesse ambiente que se inspira Tammy. Trocou o estirador da faculdade pelo ateliê de Tommy há quase quatro anos. “Gosto especialmente de branding, de poder trabalhar uma marca, criar a sua identidade, as embalagens, todo o seu mundo de comunicação”. Tammy está a terminar o projecto dos cosméticos japoneses Prosays. “Foi um ano e meio de trabalho” a criar embalagens, cartazes, identidade e tudo mais, do rabisco à maqueta. Agrada-lhe o resultado final porque conseguiu inovar. Onde é que iríamos encontrar uma marca de cosméticos com imagem a preto e branco? Agarra com orgulho numa das embalagens e lança no ar uma pergunta retórica: “Não parecem cosméticos, pois não?” Nas suas mãos já pesa outro projecto: uma joalharia da China continental. “A opção foi por um design mais feminino e romântico”. Não foi fácil convencer o freguês chinês, mas Tammy lutou muito para fazer vingar a sua ideia e, de resto, o contacto com o cliente foi “surpreendente” porque tem uma mente aberta. Mais até do que os japoneses, que são conservadores, dispara Tommy Li, que tem um segundo “consultório” à pinha em Tóquio vai para cerca de dez anos. É certo que marcam a toada das modas no Oriente, estando no entanto muito limitados à sua própria linguagem, ao design que criaram e se demarcou há algumas décadas. Pretendem apenas desenvolvê-lo mas nunca mudá-lo: “Os clientes japoneses e chineses são muito diferentes. Os primeiros querem o melhor, são conservadores. Têm experiência. Os clientes chineses esperam algo diferente de nós, designers de Hong Kong”.
O cliente tem alguma dificuldade em comunicar as suas intenções e “gosta que os seus produtos tenham um estilo chinês”. Mas algumas horas com o doutor Li e as ideias clarificam-se: “São sensíveis, o que exige algum cuidado no trato”. Mas algumas horas com o doutor Li e mudam de ideias: “São sensíveis, o que exige algum cuidado no trato”.
Não se pode olhar para a China de um só ângulo: o mercado é diversificado. Um dos mais interessantes é o dos adolescentes. Numa campanha que desenvolveu para rejuvenescer a imagem do metro de Hong Kong, o conhecido MTR, Tommy Li criou dois personagens para apelar a um público mais jovem. É a influência da cultura japonesa do “kidcult” que está na moda na China. Há uns anos, Tommy teria recorrido a celebridades para fazer passar a mensagem, “mas hoje essas pessoas só são notícia pelos motivos errados”.
O design de Tommy Li tem a marca do Ocidente e do Oriente, embora seja a contemporaneidade o denominador comum do seu trabalho. No seu ateliê estão a ser preparados projectos ligados à moda, ao design de interior. Joshua, Doris e Katie, a mais jovem designer a trabalhar para Tommy, com apenas 22 anos, são alguns dos seguidores desta metodologia de trabalho familiar mas global. Ali, entre o Ocidente e o Oriente, vão definindo também eles o design de amanhã.