– Como descobriu a paixão pelo Kendo?
– Sempre me interessei pela cultura japonesa. Li muito sobre a história do Japão, mas a maior influência foram os filmes a preto e branco dos samurai. Foi a partir deles que conheci e me comecei a interessar pela arte marcial japonesa do Kendo. Como não havia qualquer movimento na modalidade em Macau comecei a praticar sozinho com uma espada de madeira talhada, seguindo os padrões utilizados no treino do guerreiros japoneses do século XVII.
– Qual é a sensação que experimenta quando pratica?
– De harmonia, interior e para com os outros praticantes. No Kendo o importante é esforçarmo-nos por fazer os movimentos da maneira mais perfeita e mais bonita que for possível. Ajuda-me muito a relaxar. A maioria dos praticantes chega aos treinos cansada e cheia de stress mas, depois de duas horas de Kendo, sentem-se revitalizados e bem dispostos.
– Que evento gostaria um dia de poder organizar?
– O campeonato mundial de Kendo, que se realiza de três em três anos em três continentes. Neste momento ainda é prematuro porque a modalidade está numa fase de crescimento. Somos cerca de 120 praticantes, o que não é mau para uma modalidade com apenas dez anos de existência. Por este andar talvez ainda não seja possível realizá-lo daqui a nove anos, quando o campeonato voltar a ser realizado na Ásia, mas na volta seguinte, daqui a 18 anos, espero que Macau já esteja em condições de organizar o evento.
– Que reacções lhe provoca o momento que actualmente vive Macau, com este rápido crescimento económico e as transformações que ele provoca?
– É evidente que a cidade está muito diferente da Macau antiga, onde nasci e cresci. Mas ainda assim, se comparar com outras sociedades, como Hong Kong, mesmo aqui ao lado, por exemplo, continuo a achar Macau muito confortável e conveniente. Viver na península pode ser cansativo mas ainda temos as ilhas da Taipa e Coloane. Por outro lado Macau continua a ser conhecida como uma cidade casino o que é pena porque também temos as Ruínas de S. Paulo, o templo de A-Má e outros pontos de interesse para além dos casinos e da vida nocturna. Talvez se lembrem dessa herança daqui a uns vinte anos, depois de ultrapassado este período de crescimento.
– Se alguma vez pensasse em sair de Macau, qual seria a cidade dos seus sonhos?
– Como português, que me sinto, gostava mesmo era de ir viver para Portugal. Mas por causa do Kendo gostaria de viver numa cidade japonesa. Okinawa, por exemplo, no sul do país, que é mais tropical.
– Quais são os seus grandes amores?
– A minha família. A minha mulher, as minhas três filhas e o meu filho, que também pratica Kendo desde muito jovem.