A convicção generalizada de que a Ásia terá influência crescente no concerto das nações permite também perspectivar que a China assuma, no curto e médio prazo, um papel cada vez mais preponderante no século XXI. De resto, o desenvolvimento da chamada ordem tripolar – Europa, América do Norte e Ásia – está na ordem do dia da reflexão norte-americana, como nota Noam Chomsky, um dos mais conceituados analistas de política internacional.
A integração regional na Ásia é hoje um tema fundamental e cada vez mais importante.
Os principais comentadores internacionais, revistas e jornais de referência como o The Wall Street Journal, Economist e Times, multiplicam textos nos quais se demonstra que a eventual constituição de um bloco económico e político na Ásia contribuirá para reafirmar o papel que Pequim virá a desempenhar na primeira metade do século XXI.
A China afirma-se naturalmente como um dos dois líderes regionais emergentes, a par da Índia. Os dois grandes gigantes asiáticos podem ter muito a ganhar com um entendimento e com uma estratégica concertada, na opinião, por exemplo, de Siddarth Varadarjam. Na opinião do subdirector da revista The Hindu, se o século XXI vai ser “o século asiático”, a passividade da Ásia no sector energético “terá de ter fim”.
Em Janeiro último, um acordo assinado em Pequim “abriu caminho para que a Índia e a China colaborem não apenas em parcerias no campo da alta tecnologia como também na exploração e produção de hidrocarbonatos. Associação, essa, que poderá alterar fundamentalmente o sector mundial de petróleo e gás natural”, assinala Siddarth Varadarjam.
A China tem também reforçado a cooperação com a Rússia e outros países, tendo em vista a exploração de gás natural, tema que se revelou central nas recentes deslocações do primeiro-ministro, Wen Jiabao, não só à Rússia como também à Austrália e à Nova Zelândia. Com Camberra, a China pretende estabelecer uma parceria que lhe permita ter acesso às reservas de urânio (a Austrália tem 40 por cento das reservas mundiais).
De acordo com Noam Chomsky, outro passo que já está a ser equacionado é o de um mercado asiático de intercâmbio em euros. Para o analista norte-americano, o impacto desta medida estratégica no sistema internacional e no balanço de poder global “pode ser significativo”. Ainda segundo o citado analista, foi para contrabalançar o eixo Pequim-Nova Deli que George Bush se deslocou já este ano à Ásia, com o objectivo estratégico de manter a aliança com a Índia, a quem ofereceu cooperação nuclear e outros incentivos.
Um dos objectivos estratégicos que norteia a diplomacia chinesa tem sido o reforço das suas relações políticas e económicas com todos os países produtores de petróleo, como é o caso da Venezuela e de Angola. Em 2005, a Venezuela, oitavo produtor mundial de petróleo, decidiu também integrar o bloco económico Mercosul, que abrange os principais países da América do Sul. Os presidentes da Argentina e do Brasil, Nestor Kirchen e Luís Inácio Lula da Silva, saudaram a decisão de Caracas, sublinhando que se trata de um novo capítulo na integração regional. A verdade é que essa decisão aumenta também o interesse potencial da Venezuela para parceiros internacionais como a China, uma vez que, para além do valor específico das suas matérias-primas e do seu mercado interno, transforma aquele país em mais uma das portas de entrada no mercado integrado sul-americano.
Com Angola, a China acaba de estabelecer uma parceria para a construção de uma nova refinaria de petróleo. O investimento envolvido, no valor de três mil milhões de dólares norte-americanos, destina-se a criar uma capacidade de produção na ordem de 200 mil barris diários, a cargo da joint-venture Sonagol-Sinopec, ambas empresas públicas.
O reforço da importância do bloco asiático no Mundo passa, essencialmente, pelo que for feito ao nível energético. Os dois gigantes desta parte do Globo estão, de resto, apostados em reforçar parcerias ao nível do gás natural, que é considerado pelos analistas como uma das mais importantes fontes de energia para o século XXI. “Só os países que dominarem o mercado do gás natural e tenham acesso a grandes quantidades de petróleo poderão ter ambição de aumentar a sua influência no Mundo”, garante Siddarth Varadarjam.
O mais recente passo no sentido da integração regional foi dado com a proposta japonesa da criação de uma zona de comércio livre, com base em pressupostos semelhantes aos modelos do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e da União Europeia (UE).
Se a proposta japonesa se concretizar, a “Ásia dos 16” poderá reunir metade da população mundial, representando um quarto da riqueza do planeta. O “Acordo de Associação Económica da Ásia e do Sudeste Asiático” incluiria o Japão, a China, a Coreia do Sul, a Índia, a Austrália, a Nova Zelândia e dez países do Sudeste Asiático (Mianmar, Brunei, Cambodja, Indonésia, Laos, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Vietname). Este último grupo, entretanto já integrado na Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), assinou em Julho de 2000 uma aliança comercial e diplomática com a China, o Japão e a Coreia do Sul. Em 2010, o acordo entre a China e a Asean englobará uma população de mais de 1,7 mil milhões de pessoas.
Os caminhos da integração regional
China e Índia mostram ter condições para assumir a liderança de uma maior integração regional, que no futuro reforce o papel da Ásia no contexto mundial