– Sinceramente, Macau calhou! A Fundação Macau oferece aos países lusófonos bolsas de estudo para que os estudantes dos respectivos países tenham a oportunidade de vir a Macau licenciar-se no ensino superior. Eu fui apenas uma sortuda, cabo-verdiana, que conseguiu uma dessas bolsas.
– Do que mais gosta em Macau e porquê?
– O que mais gosto em Macau são as oportunidades que aparecem sempre quando a pessoa mais precisa. Aqui há uma coisa incrível, sempre aparece um part-time, uma ou duas pessoas que querem aprender português ou eventos culturais na qual diversas e diferentes culturas podem participar. As pessoas de Macau têm um fascínio pelo que é diferente e aderem às iniciativas, querem participar e colaborar. Não se encontra isso em muitas outras partes.
– Que reacções lhe provoca este rápido crescimento económico e as transformações?
– Às vezes até me choca. Macau é tão pequeno mas a cada dia esse rápido crescimento invade e toma conta de tudo e de todos. Sinto-me espantada mas ao mesmo acho que há uma bipolarização do bom e do mau deste rápido crescimento. O desenvolvimento de Macau passa pelo jogo e pelos casinos e a cada dia estão a ser construídos mais e mais casinos. Isso é bom porque há mais dinheiro a entrar, mas também arrasta consigo consequências negativas. Por um lado desenvolve-se Macau economicamente, mas por outro tem que se pensar no bem-estar dos seus residentes.
– Como é ser uma estudante lusófona de Comunicação na Universidade de Macau?
– É ser-se no mínimo diferente, mas também é ser e sentir-se única e prestigiada. Aqui entra justamente aquela dimensão intercultural de ambas as partes. Como já disse, as pessoas de Macau aderem às coisas e também aos outros com facilidade e, pelo facto de ser uma lusófona e diferente, optam por se aproximar e querer saber mais sobre mim.
– O rápido crescimento económico que Macau atravessa e o seu papel de plataforma preferencial entre a China e os Países de Língua Portuguesa poderá criar mais oportunidades para a juventude de Macau?
– É claro que sim. A juventude daqui está a acompanhar esse rápido desenvolvimento e está a par do que se passa. Num futuro próximo teremos o resultado desse próprio desenvolvimento que proporcionará aos jovens emprego e estabilidade. A posição de Macau em relação à Lusofonia trará aos jovens a oportunidade de abarcar e de serem identificados como parte de um outro mundo mix, desde África (PALOP), Europa (Portugal) e América (Brasil) e Ásia (Macau e Timor).
– Espera vir a exercer em Macau, na China continental ou regressará a Cabo-Verde?
– É pouco provável que fique em Macau. Adoro a minha família (os meus pais e irmãos) e não creio que vá ficar assim tão longe deles. Acho que Macau é um bom lugar para exercer, porque trabalha-se bem e ganha-se muito bem mas para mim há coisas mais importantes que o trabalho. Regresso para a minha terra ou vou para uma terra que me dê felicidade.
– Como descobriu a sua paixão pela música?
– Desde pequena sempre estive ligada à musica. Os meus dois irmãos mais velhos estavam sempre com a guitarra na mão e aquilo fascinava-me. Sempre gostei de cantar. A partir dos 15 anos comecei a cantar no coro da igreja da minha zona, na Cidade da Praia e aos 16 anos já era salmista. A música para mim é o meu conforto e o meu relaxamento. Não consigo estar sem ouvir uma morna, uma coladera ou uma bossa-nova. É algo quase inexplicável, é um prazer, uma necessidade. Acima de tudo é uma forma de expressar e atirar para fora o que está a mexer comigo.
– Qual é a sensação que experimenta quando toca, canta e dança?
– Sinto-me Africana. Porque a minha maneira de expressar é puramente africana. A voz, os acordes e os movimentos são exclusivamente negros e para mim não há coisa melhor.
– Quem gostaria de ver actuar em Macau?
– Cesária Évora! Sem dúvida!
– Quais são os seus outros grandes amores?
– A minha família, o meu namorado e os meus livros!