A chegada de um novo ano é, na China como em todo o mundo, motivo de celebração e de renovação de esperanças.
A publicação de almanaques nos meses que antecedem a chegada do novo ano é um dos ingredientes desse ambiente de festa. Esses pequenos livros, inspirados no tradicional almanaque Tong Shu, trazem as previsões astrológicas para o ano que então começa. Uma síntese das mesmas é apresentada nas páginas que se seguem.
O calendário lunar é utilizado para indicar as datas das festividades tradicionais chinesas, que, em geral, são datas móveis. Assim, o primeiro dia do novo ano lunar pode calhar algures entre finais de Janeiro e finais de Fevereiro. Mas, no calendário usado pelos astrólogos, que é um calendário solar, o ano chinês começa, em regra, a 4 de Fevereiro (às vezes a 3 ou a 5 de Fevereiro), do mesmo modo que a Primavera ocidental começa no dia 21 de Março (às vezes, a 20 de Março). Este ano do Cão começou às 23h07 (TU) do dia 3 de Fevereiro, ou seja, às 7h07 de 4 de Fevereiro em Macau e no resto da China.
Isso quer dizer que os livros publicados no Ocidente, que fazem coincidir o começo do ano astrológico com a festividade do Ano Novo Chinês, estão errados. Por exemplo, as crianças nascidas este ano entre as 14h15 (TU) de 29 de Janeiro e as 23h06 (TU) de 3 de Fevereiro pertencem ainda ao signo do Galo, não ao do Cão.
Além de dominado pelo signo do Cão, o corrente ano está também sob a influência do elemento Fogo. Na linguagem astrológica, diz-se que é um ano bing-xu, sendo bing o carácter ou “tronco celeste” que representa o Fogo, e xu o “ramo terrestre” a que corresponde o signo do Cão.
A astrologia popular associa ao signo do Cão características como a fidelidade e alguma agressividade superficial, que todavia não corresponde a uma realidade profunda. Dir-se-ia que “cão que ladra, não morde”, pelo que, nesta associação de ideias, poderá afirmar-se que as hostilidades serão muitas vezes mais aparentes do que reais e que, no fundo, o amor pela paz será maior do que o desejo de guerra.
No entanto, quando elaboram os seus prognósticos, os astrólogos chineses baseiam-se mais na interacção dos (cinco) elementos do que na simbologia do signo. Para eles, o mais significativo é que estamos num ano em que o elemento Fogo está muito forte, não só devido à influência celeste bing mas também porque o próprio Cão guarda dentro de si o elemento Fogo. Outro elemento em foco é a Terra, que é o elemento do Cão.
Para interpretar esta combinação de energias, há que ter em conta que, segundo os princípios que regem a interacção entre os elementos, o Fogo dá nascimento à Terra, o que quer dizer que, finalmente, há harmonia entre as energias dominantes do ano, o que não acontecia desde o ano 2000. Na interpretação do astrólogo Raymond Lo, de Hong Kong, é pois de esperar que 2006 traga, em termos comparativos, menos conflitos na cena internacional.
O tronco celeste do ano, bing, é Fogo yang. Isso corresponde, simbolicamente, ao Sol (o Fogo yin é como uma chama ou uma pequena fogueira, ao passo que o Fogo yang brilha com a intensidade e a plenitude do Sol), que veicula uma mensagem de abertura, franqueza e optimismo. Na visão do mesmo astrólogo, é de esperar que haja “conversações e acordos de paz mais abertos e honestos, abrindo assim caminho a uma atmosfera mais harmoniosa, que tem faltado no mundo desde há vários anos”.
No que diz respeito às previsões anuais, há que ter em conta que, ao contrário do que seria de esperar, o ano do Cão não é necessariamente confortável para os nativos do próprio signo. Por outras palavras, a repetição do signo do nascimento não é uma garantia de que se está perante um ano favorável (tudo depende, afinal, do horóscopo individual). No mínimo significa que será um ano de mudanças, mesmo que sejam alterações neutras e sem grandes implicações.
Em segundo lugar, há a considerar o choque natural existente entre o Cão e o Dragão (situam-se em pontos opostos do Zodíaco), que será activado este ano. Isto pode significar momentos difíceis para os nativos do Dragão, embora não necessariamente, pela mesma razão já referida. Este conflito de energias pode ser desconfortável, mas também deixa em aberto a possibilidade de acontecimentos excepcionalmente bons. Em 2004, ano do Macaco, que se opõe ao Tigre, o treinador de futebol português José Mourinho, nascido sob este último signo, foi desafiado pelas circunstâncias e reagiu pela positiva, dando o título de campeão ao F. C. do Porto e sendo convidado para treinador da equipa do Chelsea, tornando-se, desde então, uma celebridade mundial.
Muito do que se vai passar em 2006 terá a ver com este eixo de signos opostos. Indirectamente, os signos do Búfalo e da Cabra – também signos de Terra, como o Cão e o Dragão – poderão passar por algum desconforto, mas nestes casos tudo será mais esbatido e menos radical.
Finalmente, os signos naturalmente beneficiados em 2006 serão o Tigre, o Coelho e o Cavalo. O Coelho tem uma cumplicidade especial com o Cão, formando os dois como que um casal no zodíaco chinês. Por seu turno, o Tigre e o Cavalo beneficiam do facto de pertencerem à mesma “família” zodiacal do Cão, todos reunidos sob a égide do elemento Fogo.
Os nativos da Serpente e do Porco podem igualmente contar com um bom ano do Cão, sobretudo no campo sentimental.