Não é certamente o melhor fat choy ho si dai lei do mundo mas lá que é famoso é. Se não é pelos segredos do cozinheiro Long Man Fong que a ostras estufadas com língua de porco e algas pretas, do restaurante Tou Tou Koi são tão apetecidas – o próprio o admite – por que será que atraem tanta gente durante o Ano Novo Chinês? É que aquele restaurante é um ninho de celebridades e actores famosos, sobretudo de Hong Kong. Até o actual Chefe de Executivo daquelas Ilhas, Donald Tsang, já ali se deliciou.
O isco às celebridades não é certamente o fat choy ho si dai lei , uma iguaria com muita tradição em Hong Kong e Macau, que não é o prato mais solicitado entre os ilustres. Já a ideia de merendar num prato que matou a fome a Donald Tsang agrada a muitos. Mal o vermelho das lanternas enche a cidade de sombras chinesas, lá para o 22o dia do 12o mês lunar, a cozinha de Long enche-se de alguidares com água para engordar ostras secas e o fat choy, uma espécie de musgo preto que se crê serem algas das nascentes de um deserto na Mongólia. Noutros recipientes, explica o cozinheiro, apura-se o molho castanho onde vai nadar aquele “pudim” afatiado num manto de folhas de couve bem saborosas.
Nos dias da contagem decrescente, apinha-se a dispensa de todos os ingredientes para as cerca de cinco centenas de fat choy ho si dai lei que vão ser servidas no Tou Tou Koi durante as festividades. É tempo de fartura e este prato de nome tão auspicioso atinge o auge das preferências nesta altura do ano, embora fora da época decore as mesas de celebração de abertura de novos negócios ou aniversários.
Em casa de ferreiro espeto de pau
É verdade que tem alguns segredos na manga sempre que prepara o fat choy ho si dai lei. Afinal, Long Man Fong é cozinheiro profissional e “por gosto” há 16 anos. “Trabalhei sempre em Macau” e a cozinha do Tou Tou Koi é a sua segunda casa. Quanto aos segredos do auspicioso prato de Ano Novo Chinês, “não os revelo, embora não me considere um especialista deste prato”, diz com humildade, apesar de ostentar a reluzente medalha que prova o título de Commandeur ganho há três anos no concurso francês Auguste Escoffier. Vestido a rigor, de chapéu branco alto e plissado, como manda a tradição europeia, Long Man Fong explica que “qualquer pessoa pode cozinhar este prato em casa. Na véspera de Ano Novo Chinês é a minha mulher que cumpre essa tarefa”. Não se envergonha e até sorri com o pasmo que causa.
Primeiro estranha-se, depois entranha-se
Parece um pudim com as fatias de língua de porco macia e tenra a confundirem-se com a ostra numa coroa festiva. Mas não é doce. Sobressaem os veios negros da pele fininha e dourada da ostra. Um cenário que pouco abre o apetite ao ocidental mas provado o pitéu rapidamente se lhe toma o gosto. Depois, é um capricho dos deuses. É numa verdadeira caixinha de surpresas: quanto mais se come, mais se faz querer. Ao centro do “pudim” um cogumelo grande e macio – moeda de ouro, para os chineses – esconde o melhor dos paladares. Vários pedacinhos de bacon suam sobre aquele toldo para um manto de folhas de couve, esponja deste e outros sabores ali dispersos. Prove e ficará a saber porque é que o fat choy ho si dai lei tem tanto sucesso.
Uma receita para levar mais do que à letra
Chama-se fat choy ho si dai lei . À letra, este prato típico da noite do Ano Novo Chinês corresponde a algas pretas, ostras secas e língua de porco. Mas os sons das palavras chinesas escondem outros significados e, é por isso, que este é um prato tão especial na China. Prosperidade, riqueza e bons lucros traduz a segunda leitura.