Caso procurássemos uma divisa que pudesse explicitar o conjunto de responsabilidades que recaem sobre a Delegação Económica e Comercial da RAEM, em Lisboa, o chefe da representação, Raimundo do Rosário, avança, reservada a informalidade, com a mais ampla das definições: “Tratamos de tudo o que é de Macau”.
De facto, para além dos aspectos óbvios, económicos e comerciais, a missão da Avenida 5 de Outubro, à capital portuguesa, cuida, também, dos 20 acordos/protocolos celebrados, no quadro do Acordo Geral de Cooperação, entre Macau/China e Portugal, dos aspectos consulares e do apoio aos bolseiros da Região que frequentam cursos e/ou outros módulos de formação técnica e científica. Nas mesmas instalações funcionam, no âmbito do que Rosário classifica como o “capítulo ensino”, cursos das línguas chinesa e portuguesa, bem como algumas actividades, entre outras, agrupadas no “capítulo cultura”, como exposições ou lançamentos de livros. E ainda, de forma autónoma à esfera do chefe da delegação, mas no mesmo espaço físico, uma representação da Direcção dos Serviços de Turismo, na rede intercontinental de escritórios de turismo da RAEM, e uma livraria.
Como se costuma dizer, Raimundo do Rosário, um engenheiro de formação, mas com experiência política e também de gestão, vai a todas. Nomeado, no início da RAEM, no ano 2000, pelo Chefe do Executivo, Edmundo Ho, para as funções de delegado da Região Administrativa Especial em Portugal, Raimundo do Rosário tem, por isso, acompanhado a par e passo a cooperação bilateral entre a Região Administrativa Especial de Macau e Portugal.
Convidado pela “Revista Macau” a fazer um balanço ou ponto de situação, o chefe da representação da RAEM restringe-o ao “plano prático”, pois, frisa, o patamar político “excede” a sua intervenção.
Assim, Rosário propõe a repartição do capítulo cooperação em duas áreas: institucional e prática. No tocante à primeira, considera que esta “tem sido excelente; funciona muito bem”. Tese que ilustra com as visitas oficiais do Chefe do Executivo, todos os elementos da equipa de Ho Hau-hwa, e de representações da Assembleia Legislativa da RAEM e das instâncias judiciárias.
Quanto ao enfoque mais prático da cooperação bilateral, Raimundo do Rosário entende-o da mesma forma positiva, embora “lembrando” que este é um plano em que “é sempre possível fazer mais”. “Temos duas dezenas de acordos/protocolos, celebrados sob o chapéu do Acordo Geral de Cooperação, que cobrem quase todas as áreas…”. Quase, de facto. Configurando uma aparente singularidade, Macau e Portugal não celebraram um acordo formal no âmbito da “economia”. “Não obstante”, nota o chefe da Delegação Económica da Região, “existe um bom relacionamento entre os institutos de investimento e comércio externo das duas partes”, IPIM e ICEP, respectivamente; bem patente na desmultiplicação de contactos entre missões económicas e empresariais de ambos os lados.
Como acima refere o chefe da Delegação Económica e Comercial da RAEM, a representação intervém em inúmeros aspectos consulares. Desde contagem de tempos de serviço, certificados de habilitações, certidões de casamento, divórcios, e outros, como apoio no encaminhamento de provas de vida dos pensionistas de Macau afectos à Caixa Geral de Aposentações. Um exemplo mais da divisa “tratamos de tudo o que é de Macau”.
“Funcionamos quase como um consulado”, constatou Raimundo do Rosário.
Por outro lado, mais do que isso, e menos figurativo, dir-se-á que as instalações da 5 de Outubro são uma casa de Macau em Lisboa. Para as dezenas de bolseiros da Região – a língua portuguesa é utilizada com carácter oficial na RAE de Macau – que frequentam as instituições de ensino superior de Portugal.
“São mais de 50; essencialmente, bolseiros do Serviços de Educação, do Instituto Politécnico e da fundação para a Educação patrocinada por Tong Chi Kin; que; aliás, é neste momento o nosso melhor cliente”. Todos eles encontram na 5 de Outubro uma ‘segunda casa’.
Raimundo do Rosário vai ainda mais longe: “Damos total apoio aos bolseiros. Tudo, tudo, em que podemos ajudar. Até em telefonemas para matar saudades da família em Macau”.
A delegação, inclusive, promove anualmente grandes festas – Ano Novo Chinês e Natal obviamente – e organiza outros convívios e actividades. Recorda Rosário: “Já subimos o Rio Tejo com os bolseiros”. Em suma, acrescenta, no plano menos lúdico, “atendemos a todas as suas necessidades”. ‘Segunda casa’ será, pois, eufemismo. A 5 de Outubro é uma ‘primeira casa’. Nesta casa, como se disse, acolhe-se, também, um capítulo de ensino. Das línguas portuguesa e chinesa. As aulas de língua de Camões, arrumadas em três níveis – iniciação, intermédio e consolidado -, são frequentadas, explicou o chefe da delegação da RAEM, basicamente, pela comunidade imigrante e, no nível consolidado, precisamente pelos bolseiros da Região. O contingente global não chega às seis dezenas, razão pela qual Raimundo Rosário admite que haja, neste caso, um “défice de divulgação”. A língua chinesa, por seu turno, é estudada por “mais de duas centenas” de alunos de Portugal, em cinco níveis de aprendizagem. “Há mais procura do que oferta”, admite Rosário, mas afiança que “a experiência a tal recomenda”, dados os recursos disponíveis.
Interesse pelos cursos de Português e de Chinês
À medida que a sociedade portuguesa afina a percepção da real projecção da China no Mundo, o interesse pela língua e cultura chinesas cresce. Embora a disponibilização do ensino das línguas não corresponda de todo à “vocação natural” da Delegação Económica e Comercial da RAEM, esta, justifica o seu coordenador, surgiu de “forma suplectiva” e optou-se por a manter no activo. Se bem que não esteja habilitada a conferir graus formais, há lugar à emissão de um “certificado” com um objectivo mais “pragmático”. Atesta a seriedade pedagógica – há testes, verificações, avaliações.
Tudo isto somado e ponderado, concluir-se-ia que Raimundo do Rosário já tem com que se entreter. Só que… Rosário assegura igualmente a representação da Região Administrativa Especial de Macau junto da União Europeia, em Bruxelas, e da Organização Mundial do Comércio, em Genebra. Assim, um mês normal do engenheiro é passado entre os escritórios da Região em Lisboa, em Bruxelas e Genebra: as três casas de Raimundo do Rosário.
“Corro por gosto”, garante.