Macau voltou durante três dias do mês de Outubro a viver as cores da cultura lusófona. Como manda a tradição, as Casas-Museu da Taipa serviram de palco a um verdadeiro encontro de culturas, onde a saudade teve lugar e os afectos foram exteriorizados.
Longe do formalismo das conferências ou dos encontros ministeriais, a Festa da Lusofonia contribuiu uma vez mais para o estreitar das relações entre as diferentes comunidades de língua portuguesa e as comunidades chinesas radicadas na RAEM.
A Festa da Lusofonia tem o dom de nos transportar pelos cinco continentes ao ritmo de cada país, seja ele africano, asiático, europeu, ou de outro qualquer espaço geográfico. É a História alinhada em barracas, onde se trocam estórias, experiências e saberes.
Numa só tarde foi possível comer muamba de Angola, provar a cachupa de São Tomé, beber um cálice de grogue de Cabo Verde e, por que não, rematar a refeição com bebinca à moda de Goa. Mais ao cair da noite fomos convidados a dançar ao som de um samba bem brasileiro, acompanhado de um copo de cachaça. Mas havia também quem prefirisse enconstar-se ao balcão de Portugal e deliciar-se com os doces conventuais, aproveitando para depois descobrir outras paragens: Timor–Leste, Guiné Bissau, Moçambique.
Entretanto, pela noite dentro, começava a ouvir-se o som de uma música familiar. Vinha do anfiteatro ao ar livre. Seriam os Da Weasel ou os Terrakota?. Não seriam antes os moçambicanos Timbila Muzimba? O que importa é que eram sons da lusofonia, o som de todos nós.
J. M. E.
O salto dos Da Weasel
Macau esteve na rota dos Da Weasel. No palco da Festa da Lusofonia depositaram uma das muitas sementes que andam a espalhar pelo mundo e mostraram o que tinham para dar. Muitas “Re-Definições” e outras peças de colecção que marcam o seu percurso: discos como “3o Capítulo” ou mesmo “Podes Fugir Mas Não te Podes Esconder”. Macau ficou a conhecê-los e, em troca, deu-lhes alento para continuarem neste salto além fronteiras.
Quem os viu só pode acreditar que a cruzada dê os seus frutos. Os Da Weasel mataram saudades às comunidades lusófonas e fizeram disparar muitas máquinas fotográficas de um público repleto de jovens chineses. O anfiteatro das Casas-Museu da Taipa encheu para receber a trupe de Almada”.
O sexteto convenceu um público tão heterogéneo em idades como em etnias, não fosse aquele o palco da Lusofonia. Especial foi a cumplicidade que criaram nos interlúdios. Apesar dos poucos dias (mal dormidos!) que passaram na RAEM, conseguiram aperceber-se de alguns dos mil mundos da região. E polvilharam as suas músicas de alusões a Macau.
Os Da Weasel têm tudo para se afirmar em palcos estrangeiros: sabem dar espectáculo, têm repertório vasto uma atitude para agradar a gregos e a troianos. É uma versatilidade que lhes vêm da raiz. Os irmãos Jay Jay Neige e Pacman têm família em Cabo Verde e em Angola. Também Dj Glue e Vírgul fazem a ponte para África.
Foi uma passagem relâmpago que mais parecia a de um cometa. O rasto ficou. Macau provou ser plataforma para eventos culturais. Mas agora é preciso continuar a apostar, fazendo deste um casulo da cultura lusófona em ebulição. Afinal, a aposta não era assim um risco tão grande como se imaginava. Ganharam os músicos, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, que dourou a sua organização, e o público, claro está!
É o mundo lusófono a abrir as portas a mais música portuguesa. Aos Da Weasel chovem convites de todo o mundo, depois de em Novembro do ano passado terem conquistado um prémio MTV. As bandas portuguesas que não navegam no circuito tradicional e popular já podem sonhar com o carimbo no passaporte. E será como nunca ninguém imaginou: pela porta da lusofonia.
P. L.