O poder da multiplicação

“Oceanus”, a visão do arquitecto francês Paul Andreu, obra emblemática dos novos empreendimentos da SJM

 

 

Os ventos da concorrência catapultaram Stanley Ho para opções de futuro. Aos 83 anos de idade, aparentemente resistente, surpreendentemente visionário, multiplica o número de casinos de média gama (já vai em 16), lançando em simultâneo projectos de grande fôlego financeiro e arrojo arquitectónico.

Em Março de 2002, a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) substituiu como concessionária de jogo a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, de quem herdou o saber feito nas teias do jogo local e o músculo financeiro de um monopólio que vinha de 1962. Contas feitas a 2004, a SJM gerou 80 por cento das receitas brutas do jogo: 32 mil milhões de patacas (USD 4 mil milhões). Estima-se que detenha 85 por cento do mercado a crédito e 65 por cento do chamado mass market. No primeiro caso, a SJM parece imbatível, cimentada a estratégia das salas de jogo operadas por parceiros especializados na venda de fichas a crédito.

Só o Oceanus ultrapassa o investimento em infra-estruturas assumido no contrato de concessão (4,7 mil milhões de patacas). Esta visão futurista do arquitecto francês Paul Andreu custará 6,2 mil milhões de patacas (USD 775 milhões): 450 metros de comprimento, 68 de largura e altura variável, dos 50 aos 180 metros (na torre), vão rasgar a face da cidade e rebentar a escala do número de mesas de jogo e suites de luxo. A data da sua construção não está confirmada. Já a ser erguido, no centro da cidade, está o Grand Lisboa: 650 quartos em 44 andares, oito dos quais reservados ao jogo. Em fase final de acabamentos está já a Doca dos Pescadores (Fishermans’s Wharf): 93 mil metros quadrados, 40 por cento dos quais reclamados à água, no Porto Exterior, para a construção de casinos, comércio a retalho, bares e restaurantes, recortados numa arquitectura kitch, que reproduz estilos asiáticos e europeus em miniatura. Para o outro lado da cidade, no Porto Interior, a SJM prepara outro parque temático, com casinos, no Cais 16. Entretanto, a Melco, empresa cotada na bolsa de Hong Kong e gerida pelo filho de Santley, Lawrence Ho, anunciou mais dois mega-projectos: o Parque Hyatt, de seis estrelas, na ilha da Taipa, e o City of Dreams, no Cotai, que entre outras sumptuosidades anuncia salas de jogo por baixo de gigantescos aquários habitados por golfinhos.

 

Do outro lado do Delta

 

vém da K. Wah Construction Materials, grupo de construção civil cotado na Bolsa de Hong Kong e que detém 97, 9 por cento da concessionária de jogo em Macau. A KWCA é controlada na sua quase totalidade pela família Lui, cujo patriarca é Lui Chen Woo, originário da província de Jiangmen e actual membro da Assembleia Popular Nacional, em Pequim, para além de ostentar inúmeros outros cargos honoríficos de carácter social e/ou de representação política no Sul da China. Outro nome importante nesta estrutura societária é o de Lim Kok-thay, líder da Genting, que recentemente adquiriu cerca de seis por cento da KWCA, movimento que é visto por analistas internacionais como uma segunda tentativa de entrar no mercado de jogo em Macau por parte deste grupo malaio, um dos derrotados na corrida à atribuição de licenças, em 2002.

Assinado o contrato de concessão com o Governo da RAEM, em Julho de 2002, a Galaxy  avançou rapidamente com a edificação do seu primeiro casino: o City Club – Waldo, resulta da estratégia de adaptação de um edifício pré-existente, na marginal de entrada da cidade, mesmo em frente ao Sands, da Venetian. Esta primeira aposta da Galaxy permitiu-lhe iniciar as operações em curto epsço de tempo, o que lhe rendeu, em 2004, cerca de três mil milhões de patacas em receitas brutas (USD 375 milhões). Os números demonstram ainda ser ser esta a única concessionária com capacidade de concorrer no mercado de venda de fichas a crédito, dominado pela SJM, no qual ainda assim conseguiu uma fatia que ronda 12 por cento. Resultados bem superiores ao que a Galaxy apresenta no mass market, não tendo aí alcançado mais do que cinco por cento das receitas brutas do jogo .

A Galaxy comprometeu-se por contrato a construir um mega-resort no COTAI, tendo entretanto  já anunciado outros hotéis-casino: o Star World e o Hotel Rio. É obrigada, também por contrato, a investir cerca de 4,4 mil milhões de patacas (USD 550 milhões), mas ultrapassará largamente esses montantes, já a partir destes novos projectos que tem na calha.

 

P.R.

 

Rapidez e visão de jogo

 

A Venetian promete marcar a diferença em Macau, dada a sua tradição de investimento em áreas de negócio complementares às do jogo, nomeadamente nas convenções e nas indústrias de entretenimento, áreas em que Sheldon Adelson se apresenta como uma espécie de “Midas” em Las Vegas. Inicialmente parceiro da Galaxy, acabou por se separar com a agilidade e a perspicácia que lhe permitiram agarrar a tempo uma subconcessão, assinada em Dezembro de 2002, através da qual se comprometeu a construir, no COTAI, um mega-resort e vários hotéis, circundados por canais de água, onde gôndolas e outras alegorias irão reproduzir a estética romântica de Veneza (na foto). Aí nascerá um centro de convenções com cerca de 100.000 metros quadrados, tendo o Governo apostado na lógica de que a massa financeira do jogo é uma das armas que potencia a diversificação da economia local.

A operadora norte-americana começou por jogar rápido. O seu primeiro casino em Macau, o Sands, foi construído em tempo recorde e, em 2004, facturou cerca de 3 mil milhões de patacas (USD 375 milhões), tendo num ápice conquistado cerca de 30 por cento do mass market. A estratégia agora é jogar mais alto. Sheldon Adelson pretende evitar grandes volumes de investimento directo no COTAI, projecto para o qual prefere encontrar parceiros internacionais dispostos a erguerem hotéis de luxo em Macau. Entretanto, pediu já mais lotes de terreno destinados à expansão desse complexo turístico, tendo em simultâneo surpreendido tudo e todos com a aposta anunciada para a Ilha da Montanha, zona para a qual o Governo de Macau tem estado também a negociar ambições de crescimento geográfico. Já no município de Zhuhai, do outro lado da fronteira, não é permitido aí abrir casinos, mas a Venetian anunciou no passado mês de Outubro ter chegado a acordo para a construção de mais um mega-complexo de hotéis de luxo, onde nascerá outro centro convenções. A curta distância do COTAI, a Venetian torna-se assim na primeira operadora estrangeira na área do jogo a pôr um pé em cada lado da fronteira.

 

P.R.

 

Ganhar em vários tabuleiros

 

Steve Wynn primeiro esperou para ver. Assinou o contrato de construção em Julho de 2002, mas só este ano deu início às obras de construção do seu primeiro casino em Macau. Entretanto, o valor por acção do grupo, na Bolsa de Nova Iorque, saltou de 104 patacas (USD 13) para cerca de 480 patacas (USD 60), o que multiplicou não só a sua capacidade de investimento como, consequentemente, o acesso ao crédito. Mais de 50 bancos foram já convidados a entrar, ou reforçar a sua posição, no sindicato bancário de 5,69 mil milhões de dólares de Hong Kong (USD 729 milhões), criado em Setembro de 2004 para financiar a actividade da Wynn-Macau, que, por sua vez, garante à banca uma contrapartida na ordem dos 50 milhões de USD – à taxa de 3.27 por cento.

O Wynn Resort (na foto) vai custar mais de oito mil milhões de patacas (USD mil milhões) e deverá estar pronto em meados de 2007. O processo de construção é considerado uma obra prima da engenharia moderna, tendo o edifício primeiro sido totalmente revestido em vidro amarelo espelhado, a uma velocidade estonteante, partindo-se agora para os acabamentos no interior, já com o ar condicionado em pleno funcionamento. Assim se ganha tempo e dinheiro, anulando-se o risco da cedência dos materiais, nos casos em que o ar é climatizado depois de finalizada a obra. Entretanto, está já anunciado um segundo hotel-casino, no COTAI, em forma de torre.

Para fazer face à concorrência em terras do Oriente, Steve Wynn optou por aliar-se àquele que é considerado o grande “tubarão” do jogo no Japão: Kazou Okada, o homem forte do pachinko e do pachi-slot, que, demonstram os números oficiais, rendem mais que todos os casinos de Macau juntos. Mas nem só de casinos se faz o nome Wynn. A sua última aposta passa pela criação de marcas e patentes ligadas à sua imagem pessoal, na senda de outros multimilionários da era mediática, como Richard Branson ou Donald Tramp. O último grito dá pelo nome de Wynn & Company, uma multinacional no ramo da joalheria que abrirá lojas apenas em hotéis de cinco e seis estrelas. Ao jeito da Tiffany & Co.

 

P.R.

 

O último quer ser o primeiro

 

A MGM Mirage foi uma das que perdeu em 2002 a corrida à concessão de licenças de jogo. Mas quando em Junho deste ano o seu homem forte em Las Vegas, Terry Lanni, lançou em Macau a primeira pedra do primeiro hotel-casino da subconcessão comprada à SJM, por 1,6 mil milhões de patacas (USD 200 milhões), deixou um recado carregado de charme e optimismo: “A melhor coisa que nos aconteceu foi ter perdido esse concurso. Prefiro ter aqui 50 por cento de uma subconcessionária, em parceria com a família Ho, do que 100 por cento de um negócio sozinho. A MGM Grand Paradise nasce assim em Macau como uma joint-venture com duas das filhas de Stanley Ho, Pansy e Daisy. Foi a última a posicionar-se no mercado local do jogo, após a sua liberalização. E muito pouco tempo depois da escritura de constituição da sociedade lançou a todo o gás a construção do seu primeiro hotel-casino (na foto): 600 quartos; 300 mesas de jogo, metade das quais para jogadores VIP; 1000 slots; e um custo estimado em 7,8 mil milhões de patacas (USD 875 milhões). Este projecto, cuja conclusão está anunciada para meados de 2007, juntou arquitectos norte-americanos e de Hong Kong ao residente Eddie Wong, combinando um corpo largo a 460 pés de altura, com vidros espelhados em tons dourados e um desenho a fazer lembrar as ondas oceânicas. Claramente, uma estrutura concebida para disputar a visibilidade na frente aquática da strip na marginal dos Novos Aterros do Porto Exterior, do jet foil até ao Hotel Lisboa.

No dia do início da construção deste projecto foi anunciado um segundo hotel-casino, embora com desenho e localização ainda em estudo. O COTAI, entre as ilhas da Taipa e Coloane, parece ser a probabilidade mais forte. Depois da Melco e do City of Dreams, a Venetian, a primeira a acreditar naquele espaço, parece assim condenada a ter companhia na zona. Até porque ali “é mais fácil encontrar terrenos com área suficiente que permitam uma construção não só em altura mas também em extensão”, comentou Terry Lanni a propósito do próximo projecto que a MGM Grand Paradise tem já na calha.

 

P.R.